Campo Grande, 29 de março de 2024

Estudante brasileiro de Medicina na Bolívia faz uma aventura para chegar ao Brasil

Um país em ebulição, com bloqueios nas estradas e protestos por todos os cantos. Agora imagine ser um estrangeiro, precisando voltar ao seu país de origem e enfrentar mais de 600 quilômetros para chegar à fronteira. Isso foi o que viveu Danilo Roberto Assis Arguelho, de 31 anos, estudante de medicina em Santa Cruz de La Sierra, cidade mais industrializada da Bolívia.

Danilo cursa o segundo semestre de medicina e teria uma prova para tentar a transferência em uma universidade, no Brasil, no último dia 17. Por isso, mesmo com a Bolívia vivendo uma enorme crise política, após o anúncio da reeleição de Evo Morales e a fronteira do país com o Brasil, via Mato Grosso do Sul, fechada, ele e mais três amigas decidiram tentar seguir viagem.

O dia era 10 de novembro, um domingo. A ideia dos amigos era ir para a rodoviária de Santa Cruz de La Sierra, onde pegariam um ônibus até a fronteira e, dali, seguiriam caminhos distintos. Danilo, Mireylle Gabriela Domingos Rodrígues Maurício, de 23 anos, Juliana Katiely Santos Souza, de 25 anos e Nilda Carolina Rolon Gamarra, de 27 anos, saíram de casa cedo, às três horas da manhã.

Os bloqueios na cidade, no entanto, começaram a atrapalhar a viagem. Os manifestantes, que pediam novas eleições no país, tomaram o município de Santa Cruz de La Sierra, base da oposição a Evo Morales. “De Santa Cruz até Pailon, cidade vizinha, tivemos que pegar seis veículos diferentes. Depois, a cada mais ou menos 25 quilômetros tinha mais algum bloqueio, em que só era possível passar a pé. Por isso, tínhamos que trocar de veículo do outro lado”, explica Danilo.

De acordo com o estudante, o nervosismo nos pontos de bloqueio era evidente. “A gente vivia a todo momento na tensão, em todos os bloqueios eram ânimos exaltados, não deixavam a gente passar”, conta. Para conseguirem atravessar esses pontos, além da troca de veículos e das passagens pelo meio dos manifestantes a pé, os amigos ainda tiveram de pagar uma espécie de ‘pedágio’, de 10 bolivianos, a moeda corrente do país. No total, Danilo estima ter gastado cerca de R$ 75 nessas passagens.

O caminho até a fronteira continuou com percalços. Segundo Danilo, os estudantes passaram por incontáveis bloqueios, caminhando por trechos de mais de 500 metros na lama, barro e chuva. Ainda assim, as cidades bolivianas foram ficando para trás. Em Águas Calientes, os amigos pararam para almoçar em uma pensão na beira da estrada. Depois, passaram por Limonzito e Roboré, até pegarem outro carro para chegarem em Porto Quijarro, cidade que faz divisa com Corumbá, em Mato Grosso do Sul. No total, eles pegaram 5 mototáxis e 20 carros, entre caronas e vans.

Danilo e amigas almoçam no município de Águas Calientes, na Bolívia, antes de chegarem na fronteira com o Brasil — Foto: Danilo Arguelho/Arquivo Pessoal

Danilo e amigas almoçam no município de Águas Calientes, na Bolívia, antes de chegarem na fronteira com o Brasil — Foto: Danilo Arguelho/Arquivo Pessoal

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