Não! Na verdade, eu não fiquei na geladeira. Usam esse termo quando a pessoa é excluída, e não foi o meu caso. Na época (que o “Estrelas” saiu do ar), eu ouvi muito isso. Acho que tinha uma pressão mais externa até dos meus fãs e dos jornalistas que me acompanham há tanto tempo. Existia esse desejo de me entender e me querer na TV. Eu me senti até lisonjeada. Era um misto de vontade de responder “Olha, não é nada disso” com uma felicidade também, porque é bom quando as pessoas sentem a sua falta.
Na realidade, no meu mundinho, estava vivendo um momento especial. Pela primeira vez, tive tempo para pensar na minha vida. Dos meus 4 aos 43 anos, não parei. Emendava um trabalho no outro, uma emissora na outra… Apesar de já ter feito muita análise, nunca havia tido a oportunidade de olhar para a minha família e para mim de forma mais calma. Até para entender o que tinha acontecido naqueles 39 anos de trabalho. Na época, o Luciano estava viajando bastante e eu tive como acompanhá-lo em algumas viagens. Coisa que ele fazia muito quando eu estava fazendo o “Estrelas”. Ele ia muito nas viagens do programa com as crianças para poder estar comigo. Durante esse tempo que fiquei longe da TV, pude inverter isso.
O “Estrelas” é um programa pelo qual tenho um carinho gigante. E ele realmente remetia ao glamour. Tinha a ideia de mostrar a intimidade das celebridades. Isso que a gente vê hoje os próprios artistas mostrando no Instagram. Atualmente, o “Estrelas” nem faria sentido. Porque já está tudo exposto. Já o “Simples assim” é muito a cara do que eu tenho vivido nesses últimos anos e que culminou nesse meu momento de reflexão.
Acho que o acidente que a gente teve de avião (em 2015, quando a aeronave de pequeno porte em que a apresentadora estava com Luciano Huck, os três filhos e as babás, fez um pouso forçado em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul) ressignificou muito a minha vida e me fez buscar formas de me acalmar e de viver melhor. Então, isso culminou na criação desse programa. Nada é por acaso e as coisas aconteceram da forma correta. O programa traz uma mensagem para as pessoas olharem para dentro de si, para valorizarem o que realmente importa, o caminho da felicidade.
Olha, é muito difícil eu falar esse tipo de coisa sobre a minha história. Tive uma vida, aparentemente, de glamour, mas sempre foi de ralação. E meus filhos acompanharam isso. Me desdobrei para trabalhar e conseguir dar atenção para eles. Na época em que eu fazia o “Estrelas”, as pessoas falavam para mim: “O Luciano é do povo e você fica lá, só fazendo receitas…”. E eu respondia: “Gente, é uma ralação”. Mas as pessoas têm essa imagem sobre mim.
Não me incomoda. Tenho o pé no chão. Hoje, entendo o meu lugar de privilégio. Mas comecei a trabalhar muito nova. Para mim, isso aqui nunca foi brincadeira. Sempre tive muito comprometimento com o meu trabalho. Então é muito difícil eu surtar, sair da casinha… Tenho uma família muito simples e humilde também. Minha mãe era da roça e meu pai metalúrgico. Quando comecei a trabalhar, era para sustentá-los. Sempre dei valor ao que conquistei. Nunca teve espaço para deslumbre. E meus filhos sempre viram isso.
Como você lida com seus filhos em relação a essa questão dos privilégios?
Eu e o Luciano sempre mostramos para eles o valor das coisas. Apesar de eles terem coisas que eu não podia ter na idade deles, uma vida muito confortável, a gente sempre explicou a realidade do país em que vivem. Que é uma coisa muito oposta da realidade deles. Isso nunca foi um tabu para a gente. Falo que a cabeça pode estar nas estrelas, mas o pés têm que estar no chão. Lembro que, quando meus filhos eram menores, a gente foi numa loja de brinquedos e minha vontade era comprar dez brinquedos para cada um. Só que não dávamos. Era um por vez. E eles entendiam. A gente nunca foi mesquinho e leviano de dizer que eles não podiam ter, porque seria mentira. Mas sempre colocamos limites.
Você já fechou a fábrica? Pensa em adotar?
Fechei há sete anos. Mas sobre a adoção, sempre quis isso. No descarto, não. Eu tenho três filhos, mas, se bater à minha porta essa vontade um pouco mais intensa ou se a ocasião acontecer, eu sou muito aberta à ideia. Na verdade, tenho a sensação de que isso pode acontecer.
Huck está cotado para ser candidato à presidência. Já pensou em ser primeira-dama?
Não! Nunca me imaginei nesse papel. É uma realidade muito distante. A situação do nosso país não é agradável e esses rumores aumentam, porque fica todo mundo querendo uma solução. E podem achar que existe um salvador da pátria, mas eu acho que não existe. Eu até entendo a especulação, mas isso é uma coisa muito dele.
Angélica com Joaquim, Benício e Eva e o marido, Luciano Huck Foto: reprodução
Então vamos inverter a situação. Se você fosse a candidata a presidente do país, quais seriam suas propostas para a população?
Isso nunca vai acontecer. É fantasia, mas, se eu tivesse uma varinha mágica e pudesse fazer algo pelo Brasil, hoje, eu acho que eu viraria o meu foco para as causas ambientais. Isso é uma questão urgente. Estamos vendo as queimadas no Pantanal e na Amazônia. Viajo muito e vejo o quanto o nosso país é reconhecido lá fora por ter uma riqueza verde tão grande. E a gente, simplesmente, não liga.
Numa possível candidatura do Huck, você continuaria trabalhando na televisão?
Afe, Maria! Sei lá! Eu não tenho a menor vontade de parar de fazer o que eu faço. Este é o meu trabalho, é o que eu gosto e o que eu sei. Amo ser apresentadora.
Xuxa, Angélica e Eliana agitaram as redes ao postarem encontrinho Foto: Reprodução
Por falar em apresentadora, recentemente, a internet veio abaixo com o seu encontro com Xuxa e Eliana. E também rolou uma pressão nas redes sociais para vocês incluírem a Mara Maravilha no grupo de WhatsApp de vocês. Como reagiu a isso?
Essa história da Mara querer entrar no grupo nunca foi verdade. Não sei de onde saiu isso. Mas a gente nem tem contato. O grupo existe, porque eu, Xuxa e Eliana fizemos um comercial juntas e nos aproximamos muito nesse trabalho. Mas é só isso. Não é o grupo das apresentadoras infantis. É um grupo das apresentadoras que têm uma história juntas e uma amizade.
Mas existe alguma coisa mal resolvida entre você e a Mara Maravilha?
Essa pseudobriga com a Mara não existe. E nunca existiu. Eu torço por ela. É uma mulher guerreira, assim como nós. Fez parte da mesma geração e está aí batalhando pelas coisas e o espaço dela. Não tem motivo para a gente estar aqui criticando ou não querendo o bem dela.
Mara Maravilha e Angélica Foto: Arquivo
Agora, todo mundo quer saber o que rola nesse grupo de WhatsApp?
Amor, eu não posso contar (risos). A gente fala de tudo. Da situação do país, dos filhos, dos maridos. No começo, quando estávamos nos conhecendo mais intimamente, até nos surpreendíamos uma com a outra. Mas uma coisa legal entre a gente é que temos um respeito muito grande uma pela opinião da outra. Só que falamos muita besteira também.
Voltando a falar do seu novo programa, você vai atuar com amigos também?
Eu gosto dessa micagem de atuar desde o “Milk shake”(programa exibido pela extinta Rede Manchete entre os anos de 1988 e 1992). Então, sempre foi muito orgânico isso em mim. Eu nunca estudei atuação. Mas adoro. No “Simples assim”, teremos uns esquetes engraçados em que vamos encenar algumas situações da vida real. Vai ter muita gente legal. Entre os participantes, estão Paulo Gustavo (que vai interpretar um pai de adolescente sem tempo para conversar com a amiga), Danton Mello e Suzana Pires (que darão vida a médicos obstetras de uma influenciadora digital vivida pela apresentadora).
Angélica com Danton Mello e Suzana Pires. Foto: Divulgação / Globo / João Miguel Jr.
O público também pode esperar por momentos emocionantes?
Tem um quadro muito legal que se chama “Dilemas da vida real”. Ele traz histórias sempre muito emocionantes. Essa parte do programa me toca bastante. Mas, por ser uma atração no sábado à tarde, temos sempre a preocupação de trazermos assuntos mais leves.
A segunda temporada já está garantida para o ano que vem?
Essa primeira temporada vai até dezembro. Serão 12 episódios ao todo. Mas já temos outros 12 temas para uma segunda fase. Claro que não tem nada desenvolvido ainda. De qualquer forma, se tiver que ter uma segunda temporada, e eu acredito que terá, já está tudo aí.
Angélica estreia no dia 10 de outubro com o “Simples Assim” Foto: Divulgação / Globo / João Miguel Jr.