Com a pandemia de Covid-19, ter um veículo próprio foi uma das saídas encontradas para se proteger, isolar a família e tentar fugir do coronavírus em ônibus lotados ou aglomerações no trem ou metrô. A primeira opção, claro, estava no mercado de seminovos/usados. Quem optou pelo 0 km se deparou com preços exorbitantes: os carros mais baratos do Brasil não eram exatamente tão baratos assim. Para ter um Fiat Mobi ou Renault Kwid, os dois modelos mais em conta atualmente, é preciso no mínimo R$ 40 mil.
Só que as versões nessa faixa de preço, a Easy, do Mobi, e a Life, do Kwid, são feitas, literalmente, para levar do ponto A ao ponto B, sem prover nenhum conforto ou entretenimento. Essas configurações, inclusive, são as escolhidas para encorpar frotas de empresa de aluguéis de veículos. Por isso, fomos para o degrau de cima: pegamos o Mobi Like (R$ 47.990) e o Kwid Zen (R$ 46.990) para saber o que eles entregam, o que deixam de entregar e se valem o investimento.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2021/a/K/UoTKXHQVOUfRLeITmVfQ/kwmb-2.jpg)
Renault Kwid e Fiat Mobi partem dos R$ 40 mil, mas chegam facilmente aos R$ 50 mil — Foto: Renato Durães
Vamos começar pelo Fiat. O carro cedeu o título de mais barato para o Kwid por R$ 1 mil, uma dança das cadeiras. E recentemente teve a linha 2021 apresentada, com a nova identidade visual da marca na grade.
O subcompacto vem com ar-condicionado, computador de bordo, máscara negra, rodas de aço e quadro de instrumentos com tela LCD de 3,5 polegadas. Por outro lado, não traz itens básicos como regulagem de altura dos bancos, do cinto de segurança e do volante, tampouco comando interno de abertura do porta-malas e do tanque. Esses últimos itens fazem parte do pacote opcional, que custa R$ 420. A direção é hidráulica (não elétrica, como a do Kwid), ou seja, para fazer manobras é bom os músculos do braço estarem em dia. Rádio? Nem pensar. Vidros elétricos? Só os dianteiros. Multimídia? Mais R$ 2.800. E uma cor diferente do preto pode custar R$ 750 (sólida) ou R$ 1.550 (metálica). Aí a conta passa dos R$ 50 mil.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2021/6/B/gWvK4TS7GvHQpGuQ8QpQ/kwmb-3.jpg)
Árido: o interior do Fiat Mobi é repleto de plásticos e sem adereços; há uma tela digital no painel de instrumentos — Foto: Renato Durães
Outra desvantagem do Mobi em relação ao Kwid é o porte. Apesar de estarem no mesmo segmento, o Renault tem 12 cm a mais de comprimento (3,68 metros contra 3,56 m) e de entre-eixos (2,30 m x 2,42 m). Isso quer dizer que o carrinho indiano feito no Paraná recebe um pouco melhor os passageiros, mesmo sendo bastante estreito (1,58 m de largura), o que obriga os ocupantes dianteiros a ficar encostando seus ombros ou viajar imprensados contra as portas. O Mobi carrega duas pessoas atrás e, mesmo assim, com ressalvas. Para tentar abrir mais espaço, a Fiat teve de sacrificar o porta-malas. São 235 litros contra 290 l do Kwid — volume maior até que o da nova geração do Chevrolet Onix. A ergonomia é ruim, principalmente a posição de dirigir, sem ajustes no volante e banco; os pedais são colados e o curso da alavanca do câmbio é longo. Não há muito o que fazer…
Outro ponto negativo do Fiat é o motor. Desde abril do ano passado a gama voltou a usar o obsoleto 1.0 Fire Evo 8V com máximos 70 cv (etanol) — a finada versão Drive tinha o moderno tricilíndrico 1.0 Firefly (o mesmo de Argo e Cronos).
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2021/n/k/H9p9ucR9Kl1x0Jdp8c4g/kwmb-5.jpg)
Qual leva a melhor: Renault Kwid ou Fiat Mobi? — Foto: Renato Durães
O quatro cilindros da década retrasada é apenas suficiente para mover o pequeno Mobi de 967 kg. Só que o fôlego é de um fumante contumaz. O torque de 9,9 kgfm aparece muito tarde, a quase 4 mil giros. É perto dessa faixa que o carrinho começa a dar sinais de que vai embalar. As retomadas são feitas vagarosamente. De 80 a 120 km/h, por exemplo, são necessários 24,6 s (!!!), um tempo muito alto. O Kwid não é rápido nessa prova, mas leva quase 6 s a menos. Certifique-se de que há bastante espaço na hora de ultrapassar outro carro na estrada.
No zero a 100 km/h, o Mobi precisa de… uma eternidade, ou 16,6 s (!) — 4 s a mais que o Kwid e seu moderno três cilindros 1.0 SCe. É um dos carros atuais mais lentos entre os testados por Autoesporte.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2021/e/4/xx7GUnSHmAyEIQjXhhLA/kwmb-6.jpg)
Simplicidade, essa é a palavra que reina na versão Zen do Renault Kwid. Muito plástico, bancos inteiriços, painel sem firulas, mas rádio com Bluetooth e ar-condicionado de série — Foto: Renato Durães
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2021/X/n/ii6px5RFONA8t6yL7N2A/kwmb-7.jpg)
Renault Kwid — Foto: Renato Durães
Mesmo com menos potência (até 70 cv com etanol), o Kwid tem baixíssimo peso, 779 kg, o que o coloca numa melhor relação peso/potência, 11,1 kg/cv. Nada que vá fazer você suar frio nos bancos, porém é menos vagaroso que o Fiat. O que incomoda mesmo é o nível de vibrações e ruídos na cabine. Ouve-se o SCe a todo instante e é possível sentir a trepidação nos bancos e no volante quando parado em semáforos ou no tânsito.
Um ponto positivo comum aos dois carros é o consumo. O Fiat faz, com etanol, 9,1 km/l na cidade e 12,1 km/l na rodovia. Já o Renault tem médias um pouco melhores: 10,7 km/l (urbano) e 13,5 km/l (rodoviário). Ambos os modelos ainda trabalham exclusivamente com transmissão manual de cinco marchas. A da Fiat tem engates esponjosos e nada precisos. A da Renault também não é referência, mas leva a melhor. Vale destacar ainda que o Kwid, R$ 500 mais caro que o Mobi, tem ligeira vantagem nos equipamentos, a começar pelos airbags. Mesmo nessa versão, o franco-paranaense traz airbags laterais de série, além das bolsas dianteiras obrigatórias. O rádio com Bluetooth e USB também vem de fábrica. Abertura interna do porta-malas e direção elétrica são outros itens que o Mobi Like não tem.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2021/m/H/R8a1phTb62WME0WdQ11w/kwmb-8.jpg)
Renault Kwid X Fiat Mobi — Foto: Renato Durães
Um ponto a ser considerado é o pós-venda. Caso precise consertar algo, o Renault tem a cesta de peças mais barata. Nas revisões até 30 mil km, o Kwid novamente se sobressai com uma diferença acima de R$ 200. Já o seguro sai um pouquinho mais caro.
Mas R$ 50 mil por carros “mil” que não possibilitam regular altura dos bancos e volante, e ainda com retrovisores externos que têm aquela famigerada alavanquinha de ajuste? Essa é a realidade atual do mercado. A razão nem sempre está com a razão.
Itens
Fiat Mobi Like | Renault Kwid Zen | |
Airbags laterais | Não disponível | Série |
Ajuste alt. volante | Não disponível | Não disponível |
Ar-condicionado | Série | Série |
Ass. de rampa | Não disponível | Não disponível |
Bancos de tecido | Série | Série |
Câmera de ré | Não disponível | Não disponível |
Central multimídia | Opcional | Série |
Chave presencial | Não disponível | Não disponível |
Comandos no volante | Opcional | Não disponível |
Computador de bordo | Série | Série |
Controle de tração | Não disponível | Não disponível |
Farol de neblina | Não disponível | Não disponível |
Rádio | Não disponível | Série |
Direção elétrica | Não disponível | Série |
Vidros elétricos traseiros | Não disponível | Não disponível |
Rodas de liga leve | Não disponível | Não disponível |
Sensor de ré | Não disponível | Não disponível |
Teto solar | Não disponível | Não disponível |
Trio elétrico | Não disponível | Não disponível |
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2021/A/Q/mGgDZuQAaT4HoFNtz90w/kwmb-9.jpg)
Renault Kwid e Fiat Mobi — Foto: Renato Durães
2021 é o ano das mudanças
Lançados em abril de 2016 e agosto de 2017, respectivamente, Mobi e Kwid estão quase no meio do caminho da atual geração. A Fiat não dá indícios de que vá mexer profundamente no seu subcompacto. A Renault, no entanto, vai atualizar seu modelo pela primeira vez neste ano. Será um facelift brando e nada parecido com a acentuada reestilização que o carro recebeu na Índia. Para-choques, faróis e lanternas devem capitanear as mudanças. O interior pode também ser modernizado e perder um pouco o aspecto espartano.
Seu bolso
Fiat Mobi Like | Renault Kwid Zen | |
Preço | R$ 47.990 | R$ 46.990 |
Pacote de peças | R$ 5.599 | R$ 3.038 |
Revisões até 30 mil km | R$ 1.524 | R$ 1.308 |
Seguro* | R$ 1.631 | R$ 1.742 |
Desvalorização 1º ano | 11% | 12,9% |
Garantia | 3 anos | 3 anos |
Taxa de Financiamento | 0,99% a.m. | 1,07% a.m. |
Valor da Parcela | R$ 772,07 | R$ 789,83 |
Consumo cidade/estrada | 9,1-12,5 km/l | 10,7-13,5 km/l |
*Seguro: a cotação foi feita pela Limiar Seguros (11-2506-9242) com base no perfil de um homem de 40 anos, casado, morador da zona sul de São Paulo, sem bônus.
Teste
Fiat Mobi Like | Renault Kwid Zen | |
ACELERAÇÃO | ||
0 – 100 km/h (s) | 16,6 | 12,6 |
0 – 400 m (s) | 22,4 | 18,3 |
0 – 1.000 m (s) | 37,5 | 34,2 |
Velocidade a 1.000 m (km/h) | 137,7 | 147,2 |
Veloc. real a 100 km/h (km/h) | 96 | 100 |
RETOMADA DE VELOCIDADE | ||
40 – 80 km/h (D) | 9,7 s | 7,6 s |
60 – 100 km/h (D) | 15,8 s | 11,8 s |
80 – 120 km/h (D) | 24,6 s | 18,8 s |
FRENAGEM | ||
100 – 0 km/h (m) | 42,9 | 42,5 |
80 – 0 km/h (m) | 27,9 | 27 |
60 – 0 km/h (m) | 15,9 | 15,3 |
Dados da montadora
Fiat Mobi Like | Renault Kwid Zen | |
Motor | Dianteiro, transversal, 4 cil. em linha, 1.0, 8V, flex | Dianteiro, transversal, 3 cil. em linha, 1.0, 12V, flex |
Clindrada | 999 cm³ | 999 cm³ |
Potência | 73/75 cv a 6.250 rpm | 66/70 cv a 5.500 rpm |
Torque | 9,5/9,9 kgfm a 3.850 rpm | 9,4/9,8 kgfm a 4.250 rpm |
Velocidade Máxima | 152 km/h | 156 km/h |
Câmbio | Manual, 5 marchas | Manual, 5 marchas |
Direção | Hidráulica | Elétrica |
Suspensão | Independente, McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) | Independente, McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) |
Freios | Discos ventilados (diant.) e tambores (tras.) | Discos ventilados (diant.) e tambores (tras.) |
Pneus | 175/65 R14 | 165/70 R14 |
Tração | Dianteira | Dianteira |
Carroceria | Hatch, 4 portas, 5 lugares | Hatch, 4 portas, 5 lugares |
Comprimento | 3,56 m | 3,68 m |
Largura | 1,66 m | 1,58 m |
Altura | 1,52 m | 1,50 m |
Entre-eixos | 2,30 m | 2,42 m |
Tanque | 47 litros | 38 litros |
Peso | 967 kg | 779 kg |
Porta-malas (Fabricante) | 235 litros | 290 litros |
Notas
Fiat Mobi | Renault Kwid | |
CONFORTO | ||
Acabamento | 5 | 5 |
Espaço interno | 4 | 6 |
Porta-malas | 5,5 | 6,5 |
Ergonomia | 5,5 | 5,5 |
Equipamentos de série | 5 | 6,5 |
Equip. de segurança | 4 | 6 |
Subtotal | 29 | 35,5 |
DINÂMICA | ||
Motor | 5 | 6 |
Frenagem | 7 | 7 |
Suspensão | 6 | 6 |
Desempenho | 3 | 6 |
Consumo | 7 | 8 |
Câmbio | 6 | 7 |
Sensação ao volante | 5 | 6 |
Subtotal | 39 | 46 |
MERCADO | ||
Preço | 6,5 | 6 |
Desvalorização | 7 | 6 |
Garantia | 8 | 8 |
Seguro | 8 | 7,5 |
Revisões | 8 | 9 |
Preço das peças | 5 | 7 |
Atualidade | 6 | 7 |
Subtotal | 48,5 | 50,5 |
TOTAL | 116,5 | 132 |
Renault Kwid
O representante da Renault leva a melhor neste comparativo, apesar das mudanças que estão por vir neste ano. É maior, mais econômico, tem desempenho e dinâmica superiores aos do rival, um pouco mais de espaço e um pós-venda mais em conta. Está longe de ser um carro brilhante, mas é uma escolha melhor em relação ao Fiat Mobi. Para o dia a dia, para sair do ponto A e chegar ao ponto B ele tem os atributos básicos como rádio, ar-condicionado e direção elétrica.
Auto Esporte/ Por Raphael Panaro