Campo Grande, 7 de fevereiro de 2025

Teste comparativo: Renault Kwid encara Fiat Mobi no duelo entre os carros mais baratos do Brasil

Com a pandemia de Covid-19, ter um veículo próprio foi uma das saídas encontradas para se proteger, isolar a família e tentar fugir do coronavírus em ônibus lotados ou aglomerações no trem ou metrô. A primeira opção, claro, estava no mercado de seminovos/usados. Quem optou pelo 0 km se deparou com preços exorbitantes: os carros mais baratos do Brasil não eram exatamente tão baratos assim. Para ter um Fiat Mobi ou Renault Kwid, os dois modelos mais em conta atualmente, é preciso no mínimo R$ 40 mil.

Só que as versões nessa faixa de preço, a Easy, do Mobi, e a Life, do Kwid, são feitas, literalmente, para levar do ponto A ao ponto B, sem prover nenhum conforto ou entretenimento. Essas configurações, inclusive, são as escolhidas para encorpar frotas de empresa de aluguéis de veículos. Por isso, fomos para o degrau de cima: pegamos o Mobi Like (R$ 47.990) e o Kwid Zen (R$ 46.990) para saber o que eles entregam, o que deixam de entregar e se valem o investimento.

Renault Kwid e Fiat Mobi partem dos R$ 40 mil, mas chegam facilmente aos R$ 50 mil — Foto:  Renato Durães

Renault Kwid e Fiat Mobi partem dos R$ 40 mil, mas chegam facilmente aos R$ 50 mil — Foto: Renato Durães

Vamos começar pelo Fiat. O carro cedeu o título de mais barato para o Kwid por R$ 1 mil, uma dança das cadeiras. E recentemente teve a linha 2021 apresentada, com a nova identidade visual da marca na grade.

O subcompacto vem com ar-condicionado, computador de bordo, máscara negra, rodas de aço e quadro de instrumentos com tela LCD de 3,5 polegadas. Por outro lado, não traz itens básicos como regulagem de altura dos bancos, do cinto de segurança e do volante, tampouco comando interno de abertura do porta-malas e do tanque. Esses últimos itens fazem parte do pacote opcional, que custa R$ 420. A direção é hidráulica (não elétrica, como a do Kwid), ou seja, para fazer manobras é bom os músculos do braço estarem em dia. Rádio? Nem pensar. Vidros elétricos? Só os dianteiros. Multimídia? Mais R$ 2.800. E uma cor diferente do preto pode custar R$ 750 (sólida) ou R$ 1.550 (metálica). Aí a conta passa dos R$ 50 mil.

Árido: o interior do Fiat Mobi é repleto de plásticos e sem adereços; há uma tela digital no painel de instrumentos — Foto: Renato Durães

Árido: o interior do Fiat Mobi é repleto de plásticos e sem adereços; há uma tela digital no painel de instrumentos — Foto: Renato Durães

Outra desvantagem do Mobi em relação ao Kwid é o porte. Apesar de estarem no mesmo segmento, o Renault tem 12 cm a mais de comprimento (3,68 metros contra 3,56 m) e de entre-eixos (2,30 m x 2,42 m). Isso quer dizer que o carrinho indiano feito no Paraná recebe um pouco melhor os passageiros, mesmo sendo bastante estreito (1,58 m de largura), o que obriga os ocupantes dianteiros a ficar encostando seus ombros ou viajar imprensados contra as portas. O Mobi carrega duas pessoas atrás e, mesmo assim, com ressalvas. Para tentar abrir mais espaço, a Fiat teve de sacrificar o porta-malas. São 235 litros contra 290 l do Kwid — volume maior até que o da nova geração do Chevrolet Onix. A ergonomia é ruim, principalmente a posição de dirigir, sem ajustes no volante e banco; os pedais são colados e o curso da alavanca do câmbio é longo. Não há muito o que fazer…

Outro ponto negativo do Fiat é o motor. Desde abril do ano passado a gama voltou a usar o obsoleto 1.0 Fire Evo 8V com máximos 70 cv (etanol) — a finada versão Drive tinha o moderno tricilíndrico 1.0 Firefly (o mesmo de Argo e Cronos).

Qual leva a melhor: Renault Kwid ou Fiat Mobi? — Foto: Renato Durães

Qual leva a melhor: Renault Kwid ou Fiat Mobi? — Foto: Renato Durães

O quatro cilindros da década retrasada é apenas suficiente para mover o pequeno Mobi de 967 kg. Só que o fôlego é de um fumante contumaz. O torque de 9,9 kgfm aparece muito tarde, a quase 4 mil giros. É perto dessa faixa que o carrinho começa a dar sinais de que vai embalar. As retomadas são feitas vagarosamente. De 80 a 120 km/h, por exemplo, são necessários 24,6 s (!!!), um tempo muito alto. O Kwid não é rápido nessa prova, mas leva quase 6 s a menos. Certifique-se de que há bastante espaço na hora de ultrapassar outro carro na estrada.

No zero a 100 km/h, o Mobi precisa de… uma eternidade, ou 16,6 s (!) — 4 s a mais que o Kwid e seu moderno três cilindros 1.0 SCe. É um dos carros atuais mais lentos entre os testados por Autoesporte.

Simplicidade, essa é a palavra que reina na versão Zen do Renault Kwid. Muito plástico, bancos inteiriços, painel sem firulas, mas rádio com Bluetooth e ar-condicionado de série — Foto: Renato Durães

Simplicidade, essa é a palavra que reina na versão Zen do Renault Kwid. Muito plástico, bancos inteiriços, painel sem firulas, mas rádio com Bluetooth e ar-condicionado de série — Foto: Renato Durães

Renault Kwid — Foto: Renato Durães

Renault Kwid — Foto: Renato Durães

Mesmo com menos potência (até 70 cv com etanol), o Kwid tem baixíssimo peso, 779 kg, o que o coloca numa melhor relação peso/potência, 11,1 kg/cv. Nada que vá fazer você suar frio nos bancos, porém é menos vagaroso que o Fiat. O que incomoda mesmo é o nível de vibrações e ruídos na cabine. Ouve-se o SCe a todo instante e é possível sentir a trepidação nos bancos e no volante quando parado em semáforos ou no tânsito.

Um ponto positivo comum aos dois carros é o consumo. O Fiat faz, com etanol, 9,1 km/l na cidade e 12,1 km/l na rodovia. Já o Renault tem médias um pouco melhores: 10,7 km/l (urbano) e 13,5 km/l (rodoviário). Ambos os modelos ainda trabalham exclusivamente com transmissão manual de cinco marchas. A da Fiat tem engates esponjosos e nada precisos. A da Renault também não é referência, mas leva a melhor. Vale destacar ainda que o Kwid, R$ 500 mais caro que o Mobi, tem ligeira vantagem nos equipamentos, a começar pelos airbags. Mesmo nessa versão, o franco-paranaense traz airbags laterais de série, além das bolsas dianteiras obrigatórias. O rádio com Bluetooth e USB também vem de fábrica. Abertura interna do porta-malas e direção elétrica são outros itens que o Mobi Like não tem.

Renault Kwid X Fiat Mobi — Foto: Renato Durães

Renault Kwid X Fiat Mobi — Foto: Renato Durães

Um ponto a ser considerado é o pós-venda. Caso precise consertar algo, o Renault tem a cesta de peças mais barata. Nas revisões até 30 mil km, o Kwid novamente se sobressai com uma diferença acima de R$ 200. Já o seguro sai um pouquinho mais caro.

Mas R$ 50 mil por carros “mil” que não possibilitam regular altura dos bancos e volante, e ainda com retrovisores externos que têm aquela famigerada alavanquinha de ajuste? Essa é a realidade atual do mercado. A razão nem sempre está com a razão.

Itens

Fiat Mobi Like Renault Kwid Zen
Airbags laterais Não disponível Série
Ajuste alt. volante Não disponível Não disponível
Ar-condicionado Série Série
Ass. de rampa Não disponível Não disponível
Bancos de tecido Série Série
Câmera de ré Não disponível Não disponível
Central multimídia Opcional Série
Chave presencial Não disponível Não disponível
Comandos no volante Opcional Não disponível
Computador de bordo Série Série
Controle de tração Não disponível Não disponível
Farol de neblina Não disponível Não disponível
Rádio Não disponível Série
Direção elétrica Não disponível Série
Vidros elétricos traseiros Não disponível Não disponível
Rodas de liga leve Não disponível Não disponível
Sensor de ré Não disponível Não disponível
Teto solar Não disponível Não disponível
Trio elétrico Não disponível Não disponível
Renault Kwid e Fiat Mobi — Foto: Renato Durães

Renault Kwid e Fiat Mobi — Foto: Renato Durães

2021 é o ano das mudanças
Lançados em abril de 2016 e agosto de 2017, respectivamente, Mobi e Kwid estão quase no meio do caminho da atual geração. A Fiat não dá indícios de que vá mexer profundamente no seu subcompacto. A Renault, no entanto, vai atualizar seu modelo pela primeira vez neste ano. Será um facelift brando e nada parecido com a acentuada reestilização que o carro recebeu na Índia. Para-choques, faróis e lanternas devem capitanear as mudanças. O interior pode também ser modernizado e perder um pouco o aspecto espartano.

Seu bolso

Fiat Mobi Like Renault Kwid Zen
Preço R$ 47.990 R$ 46.990
Pacote de peças R$ 5.599 R$ 3.038
Revisões até 30 mil km R$ 1.524 R$ 1.308
Seguro* R$ 1.631 R$ 1.742
Desvalorização 1º ano 11% 12,9%
Garantia 3 anos 3 anos
Taxa de Financiamento 0,99% a.m. 1,07% a.m.
Valor da Parcela R$ 772,07 R$ 789,83
Consumo cidade/estrada 9,1-12,5 km/l 10,7-13,5 km/l

*Seguro: a cotação foi feita pela Limiar Seguros (11-2506-9242) com base no perfil de um homem de 40 anos, casado, morador da zona sul de São Paulo, sem bônus.

Teste

Fiat Mobi Like Renault Kwid Zen
ACELERAÇÃO
0 – 100 km/h (s) 16,6 12,6
0 – 400 m (s) 22,4 18,3
0 – 1.000 m (s) 37,5 34,2
Velocidade a 1.000 m (km/h) 137,7 147,2
Veloc. real a 100 km/h (km/h) 96 100
RETOMADA DE VELOCIDADE
40 – 80 km/h (D) 9,7 s 7,6 s
60 – 100 km/h (D) 15,8 s 11,8 s
80 – 120 km/h (D) 24,6 s 18,8 s
FRENAGEM
100 – 0 km/h (m) 42,9 42,5
80 – 0 km/h (m) 27,9 27
60 – 0 km/h (m) 15,9 15,3

Dados da montadora

Fiat Mobi Like Renault Kwid Zen
Motor Dianteiro, transversal, 4 cil. em linha, 1.0, 8V, flex Dianteiro, transversal, 3 cil. em linha, 1.0, 12V, flex
Clindrada 999 cm³ 999 cm³
Potência 73/75 cv a 6.250 rpm 66/70 cv a 5.500 rpm
Torque 9,5/9,9 kgfm a 3.850 rpm 9,4/9,8 kgfm a 4.250 rpm
Velocidade Máxima 152 km/h 156 km/h
Câmbio Manual, 5 marchas Manual, 5 marchas
Direção Hidráulica Elétrica
Suspensão Independente, McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) Independente, McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.)
Freios Discos ventilados (diant.) e tambores (tras.) Discos ventilados (diant.) e tambores (tras.)
Pneus 175/65 R14 165/70 R14
Tração Dianteira Dianteira
Carroceria Hatch, 4 portas, 5 lugares Hatch, 4 portas, 5 lugares
Comprimento 3,56 m 3,68 m
Largura 1,66 m 1,58 m
Altura 1,52 m 1,50 m
Entre-eixos 2,30 m 2,42 m
Tanque 47 litros 38 litros
Peso 967 kg 779 kg
Porta-malas (Fabricante) 235 litros 290 litros

Notas

Fiat Mobi Renault Kwid
CONFORTO
Acabamento 5 5
Espaço interno 4 6
Porta-malas 5,5 6,5
Ergonomia 5,5 5,5
Equipamentos de série 5 6,5
Equip. de segurança 4 6
Subtotal 29 35,5
DINÂMICA
Motor 5 6
Frenagem 7 7
Suspensão 6 6
Desempenho 3 6
Consumo 7 8
Câmbio 6 7
Sensação ao volante 5 6
Subtotal 39 46
MERCADO
Preço 6,5 6
Desvalorização 7 6
Garantia 8 8
Seguro 8 7,5
Revisões 8 9
Preço das peças 5 7
Atualidade 6 7
Subtotal 48,5 50,5
TOTAL 116,5 132

Renault Kwid
O representante da Renault leva a melhor neste comparativo, apesar das mudanças que estão por vir neste ano. É maior, mais econômico, tem desempenho e dinâmica superiores aos do rival, um pouco mais de espaço e um pós-venda mais em conta. Está longe de ser um carro brilhante, mas é uma escolha melhor em relação ao Fiat Mobi. Para o dia a dia, para sair do ponto A e chegar ao ponto B ele tem os atributos básicos como rádio, ar-condicionado e direção elétrica.

Auto Esporte/ Por Raphael Panaro

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