Quando começou a ser atendida pelo Programa Criança Feliz, ainda gestante, a dona-de-casa Patrícia Meris Espinoza não imaginava a transformação que aconteceria na vida de seus cinco filhos. Moradora no Jardim Noroeste, ela conta que o convite para começar a receber a visita domiciliar de um técnico veio na pandemia, época em que engravidou do pequeno Adriel Calebe, hoje com um ano e meio. “Fui fazer o recadastramento do Bolsa Família e o pessoal do Cras me falou sobre o Programa”, lembra ela que, mesmo com a suspensão das visitas presenciais, continuou recebendo atendimento e orientações de atividades por meio de vídeos via WhatsApp, enviados pela equipe técnica.
Além de informações sobre gestação saudável, Patrícia também recebia orientações sobre a importância de estimular o desenvolvimento do bebê, ainda no útero, por meio de atividades de leitura e música, auxiliando no seu desenvolvimento cognitivo. Com o fim da pandemia, as visitas semanais foram retomadas, com foco no desenvolvimento integral das crianças na Primeira Infância.
“Os técnicos passam brincadeiras que estimulam o aprendizado de meus filhos. Gosto muito porque eu também aprendo. Até já descobri um aplicativo de atividades que posso usar com os pequenos”, disse Patrícia, que viu o desempenho escolar dos seus filhos, com idades entre dois e 16 anos, ser fortalecido a partir das visitas.
Núcleo
Os benefícios vivenciados pela família de dona Patrícia são os mesmos das mais de 2.300 famílias visitadas por técnicos do Programa Criança Feliz desde sua implantação em Campo Grande, em 2017. Ao longo dos últimos cinco anos, o Programa totaliza 138.921 visitas realizadas, 765 gestantes atendidas e mais de 2.500 crianças com idades entre zero e três anos beneficiadas, além de 73 crianças com deficiência na faixa etária de três a seis anos, que tiveram a oportunidade de superar suas limitações com a ajuda dos técnicos do Programa, que desenvolvem atividades específicas para elas.
Com tantas experiências de sucesso, a Prefeitura de Campo Grande criou o Núcleo da Primeira Infância no SUAS, que tem como foco o atendimento a gestantes, crianças na primeira infância e suas famílias, objetivando a proteção social e a garantia de direitos previstos na Política de Assistência Social e do Estatuto da Criança e Adolescente. O Decreto que dispõe sobre a criação do Núcleo foi publicado na edição desta terça-feira (9), do Diário Oficial (Diogrande).
Segundo a gerente da Rede de Proteção Social Básica da Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS), Gizeli Motta, a ideia do Núcleo surgiu a partir da dimensão conquistada pela iniciativa. “Hoje o Criança Feliz é um programa intersetorial, por isso agora é necessário um olhar mais voltado para ele. O Núcleo terá um coordenador exclusivo para atender e executar o Programa. Outro fator importante é que, como ele é voltado para a primeira infância, qualquer outro programa criado nesse sentido, também poderá compor o Núcleo”, explicou.
Dinâmica e reconhecimento
Em Campo Grande, o Programa Criança Feliz conta com nove equipes para atender as regiões periféricas do município, lotadas nos Cras Guanandi, Canguru, Vila Nasser, Nossa Senhora Aparecida, Jardim Aeroporto, Moreninhas e Dom Antônio Barbosa. Porém, as equipes englobam todos os 21 Cras da Capital para contemplar todas as demandas.
O programa tem o objetivo de apoiar e acompanhar o desenvolvimento infantil integral na primeira infância (crianças de 0 a 6 anos de idade) e facilitar o acesso da gestante, das crianças e de suas famílias às políticas e aos serviços públicos que atendam às suas necessidades. As equipes que atuam no Criança Feliz são capacitadas pela Prefeitura por meio da SAS e o trabalho humanizado que desenvolvem com as famílias e crianças assistidas, se tornaram referência nacional, atraindo os olhares de técnicos do Ministério da Cidadania, que nos últimos anos vieram conhecer de perto a metodologia aplicada durante as visitas domiciliares e nas quatro Unidades de Acolhimento Institucional (UAIs).
Com uma abordagem diferenciada, os elementos utilizados pelos técnicos buscam utilizar objetos que façam parte do universo da família, como brinquedos produzidos com materiais recicláveis. A partir daí, eles ganham a confiança da criança e conseguem identificar suas necessidades e realizar o encaminhamento para melhorar o vínculo. Além das capacitações com os profissionais que atuam no programa, há um planejamento e supervisão das ações executadas com as famílias semanalmente.
“O trabalho que desenvolvemos em Campo Grande ganhou repercussão nacional e virou modelo de sucesso, sendo referência para cidades do interior do Estado também durante a pandemia, pois os técnicos continuaram prestando atendimento e oferecendo suporte remoto às famílias, por meio de atividades lúdicas e pedagógicas compartilhadas via grupos de WhatsApp., o que garantiu até prêmios e citações nacionais”, pontuou o secretário municipal de Assistência Social, José Mário Antunes.
Entre os reconhecimentos do Programa está o “Prêmio Parentalidade: boas práticas de visitadores na pandemia”. Em 2019 o reconhecimento veio por meio do prêmio Wise Awards, o mais importante do mundo na área de inovação para a educação. A premiação aconteceu durante a Cúpula Mundial de Inovação para a Educação, no Catar.
Para participar do Criança Feliz, a família deve manter seus dados no Cadastro Único atualizados, principalmente quando há gestantes e crianças de até três anos na composição familiar.