Registros de entrada e saída de pessoas são analisados na nova fase da investigação sobre assédio sexual, que teria sido cometido pelo ex-prefeito e atual candidato ao Governo do Estado, Marquinhos Trad (PSD). Nesta terça-feira (9), mandado de busca e apreensão foi cumprido na Prefeitura de Campo Grande.
Conforme a delegada Maíra Pacheco, da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), foi feita perícia nos locais indicados pelas vítimas que denunciaram que sofreram assédio sexual – o gabinete da Prefeitura. Além disso, foram apreendidos dois computadores, que agora passam por perícia.
Também é feita análise para identificar registro de entrada e saída de pessoas do gabinete.
Prefeitura emitiu nota sobre a operação
Em nota, a prefeitura alega que os servidores foram “surpreendidos” com a ação da Polícia Civil, que fechou a entrada ao prédio principal no horário do expediente. Ao Midiamax, a delegada Maíra explicou que, como era feita a perícia no local, foi necessário que não houvesse pessoas ali.
Além disso, que toda a ação foi acompanhada por um procurador jurídico do município, que o tempo todo esteve presente na diligência. Já a prefeitura ressalta que causou “estranheza o procedimento utilizado, que contou com viaturas cercando o prédio, policiais com armamentos pesados e, por parte da delegada, a atitude agressiva na abordagem aos servidores”.
Na nota é citado que não houve impedimento ao cumprimento da medida. “Ante a recomendação, a ação esteve mais próxima do espetáculo, e não da preocupação em ‘minimizar percalços à continuidade dos serviços prestados no local’, diz trecho.
“A Administração Municipal defende a apuração urgente dos fatos e confia na Justiça, e principalmente que uma investigação séria e equilibrada não seja usada como arma para beneficiar quem quer que seja”, finaliza a nota.
Cumprimento de mandado da prefeitura
Os policiais foram até o 1º andar, onde fica o setor de finanças, e no 2º andar, onde está o gabinete uma vez ocupado pelo então prefeito Marquinhos Trad. Durante a ação, pelo menos 50 funcionários do município ficaram fora do prédio da Prefeitura em razão dos trabalhos feitos pela Polícia Civil, que impediu a entrada dos servidores.
A Polícia Civil instaurou inquérito policial para apurar os casos no último dia 5 de julho, mas a ocorrência é de 2020. O inquérito policial trata dos crimes de estupro, favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual, assédio sexual, importunação sexual, perseguição, posse sexual mediante fraude e vias de fato.
Denúncias de assédio sexual
Após o primeiro registro feito por uma das vítimas, na Corregedoria da Polícia Civil, no mês passado, outras mulheres procuraram a Deam para fazer denúncias de assédio. Em coletiva no dia 26 de julho, a delegada do caso, Maíra Pacheco, afirmou que a informação de suposto pagamento feito às mulheres para registrarem denúncias não consta no inquérito, mas conforme a delegada tudo seria investigado e caso seja provado que as mulheres tenham recebido dinheiro, elas podem responder por falso testemunho. O crime tem pena de 2 a 4 anos, além de multa.
“Mas, não diminui outras denúncias das outras vítimas que procuraram a delegacia”, disse Maíra Pacheco. Ainda segundo a delegada, sobre as denúncias de assédio sexual, em “crimes como esse, a única materialidade são os relatos das vítimas. Temos de ter respeito em um país patriarcal”.
Na época, a delegada ainda explicou que outras pessoas estavam sendo investigadas, mas não revelou por quais crimes e nem a quantidade de suspeitos. O inquérito deve ser concluído em 30 dias. Não existe ainda previsão de quando Marquinhos Trad deve ser ouvido.
‘Festinha’ no interior com mulheres, delegado e empreiteiros
A mulher que denunciou o ex-prefeito relatou em sua denúncia que em 2021 recebeu uma mensagem sendo convidada para ir ao Aeroporto Santa Maria, em Campo Grande, de onde seguiriam para uma fazenda no interior para participar de uma festa.
Ela e as outras vítimas envolvidas no processo voaram em uma aeronave particular até a propriedade rural. Na festa citada pela vítima, estariam pessoas ligadas a Marquinhos Trad, como um delegado da Polícia Civil, que teria agredido a mulher com um tapa no rosto durante a ‘festinha’, dois empreiteiros e outros servidores públicos.
Ela contou que depois ele se desculpou e que não recebeu outras ameaças. A festa teria sido regada a drogas e bebidas alcoólicas e as mulheres chegaram a receber dinheiro ao voltarem para Campo Grande.
Apesar de citar que teria conhecido o empreiteiro que promoveu a festa através de Marquinhos, no depoimento a mulher diz que o então prefeito não participou da ‘farra’.
Marquinhos diz que buscas são midiáticas
Em nota, as advogadas de defesa Andréa Flores e Rejane Alves de Arruda, do candidato ao Marquinhos Trad (PSD), afirmam que as buscas realizadas na prefeitura de Campo Grande são ações orquestradas para atingir a candidatura do ex-prefeito.
Confira a nota na íntegra:
“Mesmo feita de forma midiática, com presença de diversas viaturas da polícia, para prejudicar a candidatura ao Governo do Estado de Marquinhos Trad (PSD), a operação desta terça-feira vai favorecer a defesa, pois comprovará que algumas das supostas vítimas nunca estiveram na Prefeitura Municipal de Campo Grande, evidenciando a armação em curso.
Marquinhos Trad é vítima de uma ação orquestrada para atingir sua candidatura e as advogadas de defesa de Trad, Dra. Andréa Flores e Dra. Rejane Alves de Arruda, já tomaram uma série de medidas jurídicas contra a campanha caluniosa, baseada em denúncias falsas.
O movimento começou na pré-campanha, quando um grupo que quer minar a candidatura do ex-prefeito cooptou mulheres para prestarem falsas denúncias de assédio sexual. A defesa tem evidências, registradas por uma das denunciantes em cartório, que comprovam a armação.”