Em poucos dias, governo Lula já fez muito em várias áreas para mudar a rota do Brasil, e isso também terá efeito sobre a economia
Por Míriam Leitão
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/A/E/u6JAxgSkOrixtUE4QNqg/lula-reuniao-ministerio-afp.jpg)
Lula durante primeira reunião ministerial AFP
O presidente Lula, quando abriu sua primeira reunião ministerial, tinha dois problemas emergenciais. Os sinais contraditórios na economia e o caso da ministra do Turismo. Não falou de nenhum dos dois na parte pública. Mas indicou que vai gerir a coalizão dialogando intensamente com todas as forças que estiverem no Congresso. Com isso, Lula foge do modelo do governo anterior — que dizia ser da antipolítica até comprar apoio com o orçamento secreto — e também do espectro do fim do governo Dilma, no qual a base parlamentar se dispersou. A estabilidade política é fundamental em qualquer projeto de governo, inclusive o econômico.
A política econômica não está clara, nem nos detalhes. Vai ou não subsidiar a gasolina e interferir nos preços? O ministro Fernando Haddad quer eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis e está certo fiscal, social e ambientalmente falando. Mas o temor de um desgaste levou a área política a atropelar o Ministério da Fazenda e impor o decreto que manteve a desoneração. Se este governo tem medo de perda de popularidade no auge da lua de mel, o que dirá quando o natural desgaste ocorrer?
A Fazenda, ao propor o fim da desoneração, estava pensando nos R$ 50 bilhões que entrariam nos cofres públicos. A reoneração vai elevar a inflação ligeiramente, talvez um ponto percentual, mas como será vista essa alta pelo Banco Central? Como aumento do risco inflacionário ou queda do risco fiscal? O mais lógico é que entenda como redução do desequilíbrio das contas públicas.
Outra ideia ruim ronda os combustíveis, a de que se pode “abrasileirar” os preços. Isso é o outro nome de intervenção. Se os preços ficarem artificialmente baixos, as empresas importadoras deixarão de importar, a Petrobras terá que ser a única fornecedora do mercado interno. Pode não ter a capacidade de importar tudo o que é necessário. Isso leva ao desabastecimento. Bolsonaro também quis revogar a paridade internacional, derrubou quatro presidentes da Petrobras, atropelou a governança da empresa e acabou contido pela realidade. Como solução, suspendeu a cobrança de impostos e transferiu o custo para o Tesouro. O governo Lula deveria fugir disso. Se o foco é o pobre, o caminho não é tirar impostos da gasolina ou manipular os preços para que eles fiquem baixos. Gasolina é o custo de quem tem carro. Não é o pobre.
Esse foi o primeiro dilema colocado diante do governo, a primeira mina a explodir das muitas plantadas no terreno pelo governo anterior. Atingiu a área econômica que não pôde fazer o que se propôs. Houve outros sinais de ideias caducas voltando a fazer sucesso como o de revogar a reforma da Previdência. Se optar por elas, Lula trairá seu projeto social e ambiental.
Em relação ao caso da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, Lula não pode pagar o preço de mantê-la no governo. Ligação com a milícia é o que sempre marcou Jair Bolsonaro. Os votos no Congresso que eventualmente possa ter do dividido União Brasil não valem o custo de manter no atual governo a mancha da administração anterior.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/H/V/7m0oDAThGoERXqmEU5Hg/101432975-27-03-2019-cdhm-comissao-de-direitos-humanos-e-minorias-michel-jesus-camara-dos-de.jpg)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/a/z/RUK1yeTSOwzYrpVNX0XA/101030189-20-10-2020-o-governador-do-maranhao-flavio-dino-pcdob-denunciou-nesta-sexta-feira-21-ins.jpg)
O ministro Rui Costa pediu paciência aos jornalistas, dizendo que o governo teve apenas cinco dias úteis. Verdade. E nesses poucos dias fez muito para mudar a rota do Brasil. Estancou a liberação de armas, suspendeu boiadas ambientais, restabeleceu o plano de combate ao desmatamento, mudou regras que excluíam pessoas com deficiência do sistema educacional. A lista é grande. Nas posses dos ministros foi lindo ver o reencontro dos ministérios com suas missões institucionais. E isso também é economia.
Há também o valor intangível de deixar para trás um presidente que defendia a tortura, por um tempo que foi resumido no belo discurso de Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos, “vocês existem e são valiosos para nós”.
Com Alvaro Gribel (de São Paulo)