Na hora da transa, os alimentos também podem ser grandes aliados para deixar a relação mais divertido
“A gente não quer só comer/ A gente quer comer e quer fazer amor”, reivindicam os Titãs na música “Comida”, de 1987. Versos aos quais podemos acrescentar: às vezes, pode-se querer as duas coisas ao mesmo tempo.Afinal, temperar o sexo e deixá-lo mais saboroso é uma fantasia que frequenta o imaginário popular.
Prova disso está na atenção que a indústria de produtos eróticos dedica a itens comestíveis, que, em vasto cardápio de possibilidades, buscam atender a todos os gostos. Caso, por exemplo, dos perfumados óleos de massagem, capazes de ativar o paladar, dos géis frutados, pensados para o sexo oral, e de todo sortimento de camisinhas, que oferecem sabores artificiais de clássicos, como o chocolate e o morango, a possibilidades mais elaboradas, como a caipirinha.
E, para além do leque de produtos com opções de sabores artificiais, muitos dos quais têm a vantagem de serem produzidos à base de água e com componentes hipoalergênicos, há também quem se aventure e busque incrementar a transa com o alimento em si, seja em calda ou in natura.
Mas atenção: se, por um lado, esses fetiches “gulosos” dão outras camadas de significado para aquele ditado popular sobre “conquistar o amor pelo estômago”, por outro, é importante lembrar que o uso indiscriminado de itens comestíveis durante o sexo pode causar mais do que uma simples azia.
Mucosas. A terapeuta sexual Erika Mahya, especialista em disfunções sexuais, lembra que ginecologistas e dermatologistas contraindicam o contato de alimentos nas mucosas dos genitais, sobretudo da vagina.
“Há de se ter cuidado com a flora vaginal, que, pela umidade, fica mais propícia à proliferação de bactérias e ao desequilíbrio do pH da região”, alerta. Isso significa que uso inadvertido de produtos alimentícios pode, em vez de aumentar o prazer, se tornar um problema, repercutindo em alergias, corrimentos e infecções.
Essa mesma regra pode ser aplicada na hora de decidir que lubrificante usar. Manteiga e outros produtos vegetais não são uma boa ideia, nem para o sexo vaginal, nem para o sexo anal. Nesse momento, aposte em itens feitos à base de água. “O óleo de coco também pode ser indicado, porém, se o casal for usar camisinha, ele aumenta a chance de o preservativo estourar”, pontua Erika.
Em relação ao resto do corpo, com a devida cautela, pode-se se esbaldar. Melhor ainda é se aproveitar desta oportunidade para descobrir outras zonas erógenas, enriquecendo o repertório sexual a partir da experiência de um sexo menos genitalizado.
Quente e frio. Falar em cautela é importante para se evitarem situações de desconforto, sendo recomendável, por exemplo, redobrar a atenção em relação à temperatura dos produtos utilizados. Afinal, ainda que a interação com objetos quentes e gelados possa ser excitante, há sempre o risco de que a brincadeira termine em queimaduras.
O alerta vale tanto para as caldas de chocolate quente quanto para o uso de cubos de gelo. Nesse último caso, a recomendação é evitar permanecer com a pedrinha muito tempo em uma só parte do corpo. A dica é simples: deslize e explore. Além disso, é fundamental que a água já esteja em processo de derretimento ao iniciar a dinâmica.
Antes. Citando preceitos da Ayurveda, um sistema de medicina alternativa criado na Índia, Erika Mahya indica que cada pessoa vai se adequar mais a um certo tipo de alimento. “Esse olhar mais atento para a alimentação vai ajudar a pessoa a alcançar o equilíbrio da flora intestinal, o que vai gerar melhor qualidade de vida e até mesmo de sono”, garante, inteirando que tudo isso vai interferir na intensidade do desejo sexual.
Para além das individualidades, há conselhos universais em relação ao que comer e beber antes do sexo. Via de regra, vale evitar pratos pesados ou com tempero muito forte, que podem causar sensação de desconforto estomacal. Além disso, exagerar na bebida alcoólica é sempre uma má ideia.
Experiência plena
A relação entre o que se come e o sexo, diga-se, vai para muito além da busca por uma situação de conforto na cama ou pelo desejo de apimentar a relação. Na avaliação de Erika Mahya, a forma como nos relacionamos com a comida pode, inclusive, nos conduzir a uma experiência sexual mais plena.
“A cultura do sexo, representada pela indústria pornográfica, não explora as sensibilidades e a experiência da relação do afeto”, argumenta, expondo que, nas sessões de terapia conduzidas por ela, os alimentos se fazem presentes. A ideia é que, a partir da relação que estabelecemos com o que comemos, consigamos nos habituar a viver o momento presente, para só depois ir para a interação com o outro.
“Nessa lógica de um sexo mecanizado, é comum que um tome o prazer do outro com muita ansiedade, sem entrar em contato com essa frequência sutil do prazer”, diz.
Na avaliação de Erika, a alimentação é uma boa metáfora para se falar da sexualidade. A satisfação obtida em ambas as circunstâncias envolve uma complexa série de fatores. Há o elemento dos afetos e das memórias e há um cruzamento de sensações: paladar, tato, olfato, audição.
“O problema é que, no sexo, castramos muitos desses nossos sentidos, deixando de experienciar a plenitude de todos os sentidos”, alega.
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