Clube, líder absoluto do torneio nacional, deixou competição internacional em segundo plano, mas jejum de títulos indica que esse não era o melhor plano
A eliminação para o Defensa y Justicia foi a pá de cal em uma série de decisões erradas do Botafogo em toda a campanha na Copa Sul-Americana. Por mais que nunca admitido publicamente, a competição foi colocada em “segundo plano” nessa caminhada do Alvinegro pela América do Sul. O foco por um possível título do Brasileirão é justo, mas não pode servir como desculpa para essa postura.
Com a cabeça no Campeonato Brasileiro e em pôr fim no jejum de 28 anos sem título grande, o Alvinegro colocou equipes mistas em boa parte dos jogos da Sul-Americana. Algo que por ser visto até normal pelo caótico calendário do futebol brasileiro. A bronca ficou pela postura e a forma como o time abordava os jogos da competição internacional.
Por mais que o Brasileirão esteja (bem) perto, um clube que há tanto tempo não levanta um troféu de expressão e está com uma sinergia tão forte entre torcida e atletas não pode se dar ao luxo de simplesmente “abrir mão” de uma competição. Veja bem: a expressão está entre aspas porque em nenhum momento o foco na Sul-Americana deixou de existir internamente, mas não foi tocada da mesma forma que o campeonato nacional.
A queda na Sul-Americana parecia questão de tempo desde a primeira rodada, até com Luís Castro no comando. Pareciam dois ‘Botafogos’ coexistindo: um aos finais de semana, atropelando adversários no tapetinho e fazendo uma campanha histórica no Brasileirão de forma natural; o outro, aos meios de semana, com erros bobos e dificuldade de atacar equipes bem piores tecnicamente – até mesmo o próprio Defensa y Justicia, que o Botafogo tinha condições de passar mesmo rodando o elenco.
O problema não foi poupar – isso é natural para colocar mais jogadores com ritmo de jogo e evitar desgaste no calendário pesado -, mas sim a postura e a forma como o time encarou muitos dos jogos. Foram mais empates do que vitórias na campanha e questionamentos por parte da torcida desde a fase de grupos.
Na condição e contexto histórico recente, o Botafogo não pode se dar ao luxo de “escolher competição”. Não faltou seriedade, mas as diferenças entre as competições foram claras. O Brasileirão vai muito bem, obrigado, mas era possível performar melhor na Copa Sul-Americana desde o começo.
Portanto, não foi algo exclusivo sob o comando de Bruno Lage, que errou na derrota para o Defensa y Justicia ao sacar, de uma vez, Danilo Barbosa e Marlon Freitas no meio do segundo tempo, deixando o meio-campo desguardado, a defesa menos protegida e, consequentemente, chamando o adversário para o ataque – foi justamente depois das mexidas que os argentinos marcam o segundo gol.
Resta o Brasileirão. O cenário – nem de longe – é de caça às bruxas, mas sim de reflexão porque a Copa Sul-Americana poderia ser benéfica no sentido financeiro e esportivo, para dar “cancha” aos jogadores em contextos do futebol continental.
O recado é claro: o foco é o Campeonato Brasileiro. Foi para isso que Bruno Lage, um treinador que tinha mercado no futebol europeu, veio. A próxima partida é contra o Flamengo, neste sábado, e é vista como uma das mais importantes do ano internamente.