Ginasta brasileira diz que salto que deu o ouro no Pan foi perfeito, mas que ela ainda pode melhorar
Por Marcel Merguizo — Santiago, Chile
Rebeca Andrade é perfeita. Assim como ela acredita que o salto dela para conquistar o ouro no Pan de Santiago foi perfeito. Foi perfeito? “Foi. Sempre pode melhorar, mas foi”, respondeu a agora campeã olímpica, mundial e pan-americana do salto.
Rebeca Andrade é perfeita. E todo torcedor brasileiro, japonês, belga e chileno tem o direito de acreditar nessa perfeição. Sempre pode melhorar, todos sabem. E ela, apoiada na experiência e em três cirurgias nos joelhos, também sabe que pode ser cada vez mais representativa para as meninas, para as mulheres, para as pretas, para as atletas, para o esporte no Brasil, para o esporte olímpico mundial.
Rebeca Andrade é perfeita. Simone Biles, a maior, já a coroou. Jordan Chiles, a rival do Pan, já a reverenciou. Flavia Saraiva, a amiga, já se inspirou. Jade Barbosa, a companheira, já a abraçou. Daiane dos Santos, a referência, já se apaixonou. E quem nunca, diante de tanta perfeição?
Rebeca Andrade é perfeita. E pode melhorar. Ela desafia a física assim como desafia a definição de perfeição no dicionário: “O mais alto grau de uma qualidade”. Então, se 9.733 é uma execução perfeita, ela executa o carisma, a simplicidade, a alegria em sua excelência. Quem são esses juízes para encontrar defeitos nas acrobacias dela? No solo e na vida, ela salta os obstáculos, dá piruetas (uma, duas) nos problemas e cai em pé, sorrindo.
Rebeca Andrade é perfeita. E larga rumo às Olimpíadas de Paris com uma nota de partida 10, como a principal atleta brasileira, como o rosto que qualquer patrocinador quer estampar num pôster, como a amiga que Flavinhas e Jades querem ter na dancinha das redes sociais ou numa tarde de sol na praia.
Rebeca Andrade é perfeita. Você pode até não entender o que é um Cheng, como um dia não compreendeu o que é um duplo twist carpado. Mas sabe que ali está vendo arte. É como tomar um mote em Santiago, a bebida gelada, super doce, feita com suco de pêssego (e um pedaço da fruta em caldas) e repleta de grãos de trigo. Você percebe que algo diferente está na sua frente.
Rebeca Andrade é perfeita. E a vila logo em frente ao ginásio onde ela já conquistou um ouro e duas pratas em Santiago leva o nome de Rebeca Matte, uma escultora chilena que tem suas obras expostas no Museu Nacional de Bela Artes. É para lá que devia ser levado o salto de Rebeca Andrade.
Rebeca Andrade, afinal, é perfeita. E pode melhorar.