Lucas Moura ainda era uma jovem revelação do São Paulo quando José Mourinho quis contratá-lo. Na época no Real Madrid, o técnico chegou a se reunir com empresários e os pais do atacante na capital espanhola, mas uma proposta oficial nunca chegou ao Brasil. Sete anos se passaram, e hoje o brasileiro é um dos homens de confiança do português no Tottenham.
Lucas já vinha tendo mais oportunidades nesta temporada ainda sob o comando de Pochettino, mas claramente tem um novo status com o novo técnico. Além de mais minutos em campo tem recebido elogios rasgados fora dele. O brasileiro garante que nem sempre tudo são flores, mas prefere assim.
José Mourinho e Lucas Moura na estreia do técnico pelo Tottenham — Foto: Catherine Ivill/Getty Images
– Ele é um cara que analisa muito taticamente a equipe adversária e que gosta muito de trabalhar taticamente a nossa equipe. Ele gosta muito do trabalho em equipe, um time bem compacto, que faz as movimentações desenhadas, todos juntos. Dá essa liberdade para a gente jogar, se divertir em campo, colocar a nossa característica em prática.
– Ele é muito sincero, joga muito aberto com a gente. Quando a gente joga mal, ele fala na nossa cara. Quando joga bem, quando tem que elogiar (também). Acho que está sendo muito positivo esse início com ele.
Lucas jogou em todos os 15 jogos sob o comando de Mourinho até o momento, sendo titular em 13. No jogo de volta contra o Middlesbrough, pela 3ª rodada da Copa da Inglaterra, foi substituído pela primeira vez nas últimas cinco partidas. Depois Mourinho explicou que queria apenas dar um pouco de descanso ao atacante. Disse que ele está jogando de forma fantástica e que a confiança era importante para que a responsabilidade dele junto ao time crescesse.
O brasileiro vibrou com as declarações, que chegam em um momento importante de mudança de sua função no time. Ele vinha crescendo de produção na ala direita, com quatro gols sob o novo comando, mas agora tem atuado centralizado para substituir Harry Kane, fora do time até abril. Um sacrifício que o brasileiro já fez no passado e que repete em prol do grupo.
Lucas Moura corre atrás da bola em jogo contra o Liverpool: Mourinho elogiou dedicação do brasileiro — Foto: Reuters
– O time não tem ninguém com as mesmas características do Harry Kane. Desde quando eu cheguei no Tottenham eu aprendi a fazer aquela função, claro que com a minha característica. Então não tem problema nenhum. Estou sempre pronto para ajudar, seja qual for a função. O Mourinho conhece, sabe onde que eu rendo mais, sabe qual é a minha posição. Mas numa situação onde o time está precisando, para mim não tem problema algum. Para mim o importante é estar em campo, estar jogando e ajudando a equipe.
Nesta quarta-feira, Lucas deve começar jogando mais uma vez. O adversário será o Norwich, lanterna do Campeonato Inglês. O jogo, válido pela 24ª rodada, começa às 14h30 de Brasília.
Confira outros trechos da entrevista:
GLOBOESPORTE.COM: Você já tinha feito o papel de centroavante na temporada passada. Tem alguma diferença em relação ao que você fez naquele momento e a agora?
Lucas: Tem um pouco de diferença porque acho que agora estou um pouco mais adaptado. De lá para cá eu joguei algumas vezes nessa função. Eu sofro um pouco por causa da questão física, não tenho uma estatura tão privilegiada, mas eu consigo compensar com a minha agilidade, com a minha velocidade. Eu procuro movimentar bastante para confundir a defesa adversária, para abrir espaço para outros jogadores que estão chegando. Eu tenho que estar pronto para ajudar a equipe, e quanto mais funções eu fizer, mais positivo para mim.
Que grandes diferenças você sentiu do trabalho do Pochettino para o do Mourinho?
Acho que ainda é um pouco cedo para falar. O Mourinho disse para a gente quando ele chegou que era a segunda vez, se não me engano, que ele pega uma equipe no meio da temporada. Isso é um pouco complicado porque você não tem muito tempo para treinar jogando praticamente duas vezes por semana. Não tem como trabalhar muito nos treinamentos. Mas acho que é um estilo um pouco mais diferente. Ele é um cara que analisa muito taticamente a equipe adversária e é um cara que gosta muito de trabalhar taticamente a nossa equipe. Ele gosta muito do trabalho em equipe, um time bem compacto, que faz as movimentações desenhadas, todos juntos. Ele dá essa liberdade para a gente jogar, se divertir em campo, colocar a nossa característica em prática. Ele é muito sincero, joga muito aberto com a gente. Quando a gente joga mal, ele fala na nossa cara. Quando joga bem, quando tem que elogiar. Acho que está sendo muito positivo esse início com ele.
Lucas Moura e Mauricio Pochettino conversando à beira do campo — Foto: Reuters / Eddie Keogh
O quanto o fato de o idioma ser o mesmo facilita?
Quando a reunião é com o time todo ele sempre fala em inglês. Se precisar falar comigo na frente de todo mundo ele vai falar em inglês também. Mas quando chama no particular, aí é o nosso idioma, e claro que me sinto mais confortável de falar português, que é o idioma que eu domino e tenho essa liberdade com ele de conversar. Mas como eu falei, ele é um cara muito aberto, muito sincero. Ele dá essa liberdade para chegar nele e falar o que eu acho, o que eu quero, o que estou pensando. Por ser português essa facilidade de idioma me deixa mais confortável quando preciso perguntar para ele, quando preciso falar alguma coisa.
Ele falou que tentou te contratar quando estava no Real Madrid. O que você lembra dessa negociação?
Na época meus pais chegaram a viajar para a Espanha com meus empresários, tiveram uma reunião lá. Foi uma reunião positiva, meus pais falaram super bem do Mourinho, foram muito bem tratados lá. Inclusive quando o Mourinho chegou aqui ele falou que esteve com meus pais lá, mandou um abraço para eles e tal. E na ocasião a gente estava esperando alguma coisa do Real Madrid, mas até o momento não teve uma proposta oficial, só especulações e tal, nenhuma proposta oficial. As (propostas) que chegaram na época eram de Manchester, Inter de Milão e do PSG. Eu senti que eu tinha que fazer uma escolha, não podia ficar esperando. Talvez a proposta do Real Madrid não viesse e eu ia acabar perdendo aquela janela. Tive que tomar uma decisão, acabei optando pelo PSG. As coisas não evoluíram no Real Madrid. E agora estou tendo a oportunidade de encontrar com ele aqui, um outro momento, uma outra liga. Está sendo muito positivo.
Ele te deu muita moral em entrevista depois do jogo contra o Middlesborough. O quanto isso te impulsiona?
É fundamental a confiança no futebol. Fiquei muito feliz mesmo com essa entrevista. Ter essa confiança do treinador, essa moral, esse respaldo que ele está me dando é muito, muito bom. Me deixa muito à vontade para entrar em campo e colocar meu estilo de jogo sem receio de fazer alguma jogada mais arriscada. Isso é muito importante. Agora é claro que tenho que corresponder. Tenho a cada dia que mostrar no treinamento e nos jogos com atitudes, com meu espírito de querer vencer e com as minhas características. Tenho que mostrar que realmente mereço estar jogando, não só porque ele gosta de mim, mas porque eu estou merecendo estar em campo. É isso que eu procuro fazer. A cada dia aproveitar essa oportunidade porque já fiquei muito tempo do outro lado, muito tempo no banco, e quero estar jogando, quero ajudar. Estou procurando a cada dia agarrar com unhas e dentes essa oportunidade que está sendo dada.
Antes de trabalhar com ele chegou a conversar com brasileiros que foram treinados por ele antes?
Eu conversei com o Willian. Quando o Mourinho assumiu o Tottenham ele veio me falar, falou muito bem dele. Quando chega um treinador desse calibre do Mourinho a gente fica ansioso, na expectativa de conhecer ali o dia a dia com ele, o treinamento, como ele é nas reuniões. Eu estava muito ansioso. Willian falou que foi muito bom o tempo que ele esteve no Chelsea com ele, que ele é fera, que eu ia gostar bastante. Mas eu não procurei sondar e perguntar para ninguém porque cada um pode ter uma opinião diferente, ter passado momentos diferentes com ele, então eu estou procurando ter a minha experiência com ele no dia a dia e tirar as minhas conclusões.
Mas está sendo diferente da imagem geral que tinha dele?
Eu procuro nunca tirar conclusões pelo que as outras pessoas falam, pelo que a imprensa fala ou outros jogadores. Se eu tenho a oportunidade de trabalhar com ele agora, eu procuro tirar a minha conclusão do que eu estou vendo do dia a dia. Está sendo muito positivo com ele, de verdade não tenho nada para falar. É um estilo que eu gosto muito porque o que ele precisa falar ele vai falar direto para você, não vai mandar recado por ninguém. Se você jogou mal ele vai falar na sua cara que você não fez nada no jogo. É um estilo que gosto bastante, que é muito sincero. Ele não vai falar nada para te agradar. Ele vai falar o que ele acha, o que ele pensa. Estou achando muito positivo.
O elenco do Tottenham está com pouca margem para rotação. Algo diferente tem sido feito na preparação física ou recuperação pra aguentar não ter descanso?
Eu espero continuar jogando, não quero descansar não (risos). Não tem nada muito específico não. É mais mesmo diminuir a carga no treinamento, piscina, banheira de gelo, alimentação, descansar bem quando estiver em casa. Tirar um pouco o pé nos treinamentos para a gente estar bem nos jogos.
Tottenham está em oitavo no Campeonato Inglês, com o Harry Kane fora, o Erikssen na iminência de sair. O que vocês ainda podem almejar na temporada?
Dentro do campo nosso objetivo é muito claro, a chance é muito real da gente ficar na zona de classificação para a Champions, apesar dos últimos resultados não terem sido tão bons. A gente tem oscilado bastante. A distância não é tão longa para o primeiro fora dessa zona, que é o Manchester (United). Está muito equilibrada a briga ali. A gente sabe que uma sequência de três, quatro vitórias, vai colocar a gente lá em cima e talvez até já no G4. A gente sabe também da nossa qualidade, que uma hora o time vai embalar. A gente está trabalhando bastante, muito focado, muito centrado nesse objetivo de conseguir uma sequência boa para a gente chegar ali naquele pelotão de frente.
Por Helena Rebello — Londres, Inglaterra