A bola parou de rolar nos gramados mundo afora por conta da pandemia do coronavírus, e os cofres dos clubes, consequentemente, deixaram de receber receitas importantes. Por isso, enquanto os torneios não têm data para retorno, as equipe se veem mergulhadas em um problema extracampo: arcar com salários milionários sem fluxo de caixa.
O problema vem gerando um impasse em alguns clubes, que tentam chegar a um acordo com seus jogadores para fazer seus caixas respirarem e, ao mesmo tempo, não impactar de forma dura a vida dos atletas. Os últimos a colocarem em prática medidas financeiras, na última quinta-feira, foram Barcelona e PSG. Os catalães indicaram que tomaram a decisão de implementar uma redução salarial, mas não citaram a porcentagem; os franceses, por sua vez, adotaram o regime de “desemprego parcial”, no qual podem pagar apenas 70% dos salários brutos.
Barcelona
O clube catalão vinha debatendo uma possível redução salarial com o elenco nas últimas semanas e, de acordo com a imprensa espanhola, as possíveis medidas não foram bem recebidas pelos jogadores. Entretanto, o clube divulgou um comunicado oficial na última quinta-feira, no qual indica que haverá uma “redução do dia útil do trabalho”, que se refletirá na redução proporcional dos vencimentos previstos em contratos. A diretoria teria recorrido a um mecanismo chamado Expediente de Regulação Temporal de Emprego (ERTE), previsto na legislação para situações de emergência.
A proporção de redução não foi esclarecida pelo clube, que ainda formalizará o acordo junto às autoridades indicadas. A nota, porém, deixa claro que as medidas afetam não só os funcionários, como “os diferentes campos esportivos”, incluindo o futebol. Os atletas teriam recusado, na última semana, um corte de 50% nos salários.
Messi e companhia terão salários afetados pela crise do coronavírus — Foto: REUTERS/Albert Gea
Real Madrid
Embora a legislação na Espanha tenha a brecha para a redução salarial dos trabalhadores, o Real Madrid não deve fazer cortes na folha de pagamento de sua equipe. A agência “Efe” indicou que os merengues descartaram recorrer ao ERTE e, a princípio, vai manter os pagamentos normalmente.
O Real Madrid estaria confiante no retorno da temporada em breve, o que permitiria que ela terminasse até o fim de maio ou começo de junho. Desta forma, não seria o caso de recorrer ao mecanismo de emergência e impor uma redução salarial aos funcionários.
Atlético de Madrid
O Atlético de Madrid ainda não tomou nenhuma medida com relação ao pagamento de seus jogadores e comissão técnica, mas a imprensa madrilenha indica que o clube deve recorrer ao ERTE, assim como outras equipes no país. O presidente do clube, Enrique Cerezo, indicou que, caso seja necessária a redução salarial, não haverá resistência.
– É uma consequência do que está acontecendo. Acho que nem da parte deles (jogadores) nem do treinador nós teremos problemas. Vai sempre estar à altura das circunstâncias – disse à “Rádio Marca”.
FRANÇA
PSG
O PSG anunciou na última quinta-feira que também usará um mecanismo previsto na legislação francesa para trazer um respiro ao seu caixa em meio ao problema público de saúde. Apesar de ter a maior folha de pagamento da Ligue 1, o clube parisiense foi um dos últimos a adotar o “desemprego parcial” para seus funcionários. Uma medida que permite o pagamento de apenas 70% do salário bruto dos trabalhadores e ainda prevê reembolso do Estado de cerca de 5,4 mil euros.
O clube ainda não oficializou a medida, mas os principais veículos da imprensa francesa destacaram a decisão dos parisienses. A princípio, todos os trabalhadores – incluindo os atletas profissionais – estariam incluídos na redução.
Neymar puxa folha salarial do PSG, a mais cara do futebol francês — Foto: Getty Images
ITÁLIA
Epicentro da pandemia do coronavírus nas últimas semanas, a Itália vem vivendo dias de incerteza também no esporte, e há um certo pessimismo com relação à conclusão dos campeonatos por conta do problema público de saúde. Enquanto uma decisão sobre o futuro dos torneios não é tomada, as equipes discutem uma ação coletiva com relação aos salários dos jogadores.
A “Sky Sports” indicou que a corrente que ganhou força nos últimos dias foi a da suspensão dos salários de março para todos os atletas. Outra opção que vem sendo discutida é a redução dos vencimentos em 30%.
Juventus
Entretanto, a Juventus, dona da maior folha salarial da Série A, já estaria se mexendo para negociar com os jogadores possíveis medidas, de acordo com a “Gazzetta dello Sport”. As negociações estariam sendo conduzidas pelo presidente Andrea Agnelli com o capitão Chiellini, que é formado em economia.
Seriam três as opções dos atletas da Velha Senhora. Uma seria abrir mão do pagamento de março e ter o salário interrompido até o retorno do campeonato (com pagamentos a serem feitos posteriormente); outra seria abrir mão de dois meses de salários até junho, em caso de não-retorno da competição, e um mês até junho, no caso da temporada ser completa; e a terceira seria desistir de um mês e meio de salário imediatamente até junho, independente da conclusão da temporada.
Jogadores da Juventus, de Cristiano Ronaldo, podem fazer acordo com o clube — Foto: Divulgação/Juventus
INGLATERRA
Os clubes ingleses talvez tenham sido os últimos a se manifestar sobre as dificuldades financeiras que as pausas dos campeonatos podem gerar. Mas a falta de previsão para que a bola volte a rolar pode deixar equipes e atletas sem escolha. E, por isso, um acordo coletivo pode ser construído nas próximas semanas.
A Associação de Jogadores de Futebol Profissionais (PFA) solicitou uma reunião de emergência para tratar do possível corte nos salários – que começou a atingir times das divisões mais baixas, como o Birmingham. O Leeds, por sua vez, viu atletas, técnicos e dirigentes abrirem mão dos pagamentos para ajudar o clube.
A “ESPN” afirma que os clubes da Premier League não gostariam de fazer qualquer alteração no vencimento dos atletas, mas apenas os gigantes conseguiriam atravessar a longa pausa no campeonato sem graves problemas financeiros no caso do pagamento integral das folhas. Por isso, a probabilidade é que haja um acordo com a boa vontade dos atletas, que estariam cientes que qualquer resistência neste momento poderia ser ruim para a imagem da liga.
Enquanto isso, times como Manchester United e Arsenal indicaram que continuarão a pagar todos os funcionários nas próximas semanas – inclusive aqueles que tinham funções apenas nos dias de jogos nos estádios.
ALEMANHA
Bayern de Munique
O Bayern de Munique não se manifestou oficialmente, mas a Agência de Imprensa Alemã (DPA) afirmou que os jogadores e dirigentes do clube bávaro chegaram a um acordo de cortar 20% de seus salários para auxiliar o clube em meio à pandemia do coronavírus.
De acordo com a imprensa alemã, o clube estava cogitando a demissão de funcionários administrativos durante a pausa da Bundesliga, e a atitude dos atletas e dirigentes teria dado um respiro para que o pessoal fosse mantido mesmo diante da pausa.
Os jogadores do Borussi Dortmund também teriam se prontificado a abrir parte de seus salários, sem divulgar a porcentagem, para que o clube consiga reagir melhor à crise. O gesto foi elogiado pelo CEO do clube, Hans-Joachim Watzke, que apontou que trata-se de um “sinal de solidariedade”.
– O Borussia Dortmund irá economizar dezenas de milhões no total, o que poderá ajudar a manter o clube como um dos maiores empregadores da cidade de Dortmund, apesar da crise do coronavírus.
Por GloboEsporte.com — Rio de Janeiro