Campo Grande, 30 de abril de 2025

Médico conselheiro da Casa Branca diz que o coronavírus é o inimigo e ‘não há tempo para brigas políticas’

Donald Trump não entende completamente por que sua popularidade não é tão alta quanto a do cientista-chefe da equipe especial da Casa Branca contra o coronavírus, Anthony Fauci.

“Ele tem essa alta aprovação, então por que não a tenho? É impressionante”, disse Trump nesta semana.

Não foi o primeiro ataque do governo a Fauci, mas o maior especialista em doenças infecciosas do país e principal epidemiologista da Casa Branca tenta se afastar dos tipos de controvérsias que ele descreve como uma distração do problema real: a pandemia covid-19.

“Eu me concentro apenas no meu trabalho”, disse ele à BBC em mais de uma ocasião nesta entrevista, na qual evitou qualquer atrito com a Casa Branca.

Anthony Fauci, médico conselheiro da Casa Branca, usa máscara ao chegar para dar declarações ao Congresso dos EUA nesta terça-feira (30) — Foto: Al Drago/Pool via Reuters

Anthony Fauci, médico conselheiro da Casa Branca, usa máscara ao chegar para dar declarações ao Congresso dos EUA nesta terça-feira (30) — Foto: Al Drago/Pool via Reuters

E, sem querer entrar em polêmica com ninguém, explicou os motivos que, segundo ele, levaram os Estados Unidos a um recrudescimento no número de casos confirmados por dia e listou cinco regras fundamentais que a população deve cumprir para que a curva de infecção seja achatada.

Confira a entrevista de Fauci a Razia Iqbal, do programa Newshour, da BBC:

1. BBC – Vamos falar do número de infecções e mortes nos Estados Unidos.

Anthony Fauci – Quando você olha para a dinâmica das curvas de infecção em nosso país, tivemos muitos casos quando a região metropolitana de Nova York foi o epicentro do surto.

Daí as curvas começaram a descer, mas não como aconteceu em outros países, principalmente na União Europeia e até no Reino Unido. Nunca chegamos a um ponto realmente baixo, mantivemos cerca de 20 mil casos por dia. E ficamos assim por algumas semanas.

O que aconteceu depois, quando suspendemos algumas restrições para reviver a economia, em certas regiões do país, como em alguns Estados do sul, como Flórida, Texas, Arizona ou sul da Califórnia, os contágios começaram a aumentar. Assim, a base passou de 20 mil casos diários para 30 mil, 40 mil, 50 mil, 60 mil e até 70 mil.

As mortes, que haviam caído, começaram a aumentar e agora temos aproximadamente mil mortes por dia.

Ainda temos um número considerável de casos novos, então estamos tentando controlar isso, começando a achatar a curva. Mas nossa preocupação é que outros Estados de outras regiões pareçam estar passando pelo que os Estados do sul passaram.

2. BBC – Existem 12 Estados nos EUA registrando mais de 100 mil casos no momento. Claramente, é um equilíbrio muito difícil, além disso, a emergência de saúde é global. O que o senhor acha que poderia ter sido feito de maneira diferente?

Fauci – O que estamos tentando fazer, e espero que tenhamos sucesso, é reunir diretrizes para as quais trabalhamos com a equipe especial de coronavírus da Casa Branca. Essas diretrizes, que devem ser usadas pelos Estados, são essencialmente um guia passo a passo para a abertura cuidadosa e prudente das restrições.

Um dos problemas é que alguns Estados, não vou mencioná-los, não fizeram essa abertura passo a passo quando viram uma diminuição consistente no número de casos em um determinado período de dias.

Se isso for feito com êxito, permanecemos na fase 1 por um tempo e depois passamos para a segunda e a terceira fases. O que aconteceu em alguns Estados é que alguns dos marcos de controle foram ignorados e eles passaram para a fase seguinte, o que de fato causou o ressurgimento dos casos.

Em outros lugares, os Estados tentaram realizar esse processo adequadamente. No entanto, houve populações que não seguiram as recomendações para evitar multidões, usar máscaras e manter o distanciamento social, e isso também produziu novos surtos.

3. BBC – Mas não foi um problema de comunicação? Embora sua equipe tenha preparado um plano sobre como os Estados deveriam reabrir, a mensagem enviada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeria que a reabertura não era um problema.

Fauci – Não vou comentar sobre o presidente dos Estados Unidos, apenas estou apontando quais são os fatos e a situação pela qual os Estados Unidos estão passando. Ao contrário de outros países, tradicionalmente em nossa história, os Estados têm muita autonomia.

Diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Dr. Anthony Fauci, fala ao lado do vice-presidente dos EUA Mike Pence e integrantes da equipe da Força-Tarefa de Coronavírus na Casa Branca, na Casa Branca, em Washington  — Foto: Jim Watson / AFP

Diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Dr. Anthony Fauci, fala ao lado do vice-presidente dos EUA Mike Pence e integrantes da equipe da Força-Tarefa de Coronavírus na Casa Branca, na Casa Branca, em Washington — Foto: Jim Watson / AFP

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