O início assustou. Abner Teixeira não esperava o ritmo de Hussein Iashaish, da Jordânia, logo de cara. O pugilista brasileiro, porém, teve calma. A partir do segundo round, conseguiu equilibrar a luta e garantiu a classificação para as semifinais do boxe na categoria pesado. O resultado garantiu ao menos o bronze para o paulista em nas Olimpíadas de Tóquio.
– No primeiro round, cara veio como um trator para cima de mim. A gente já sabia que ele viria assim, mas mesmo assim eu não esperei. No segundo round, eu comecei a conseguir pegar uns contragolpes bem encaixados no corpo, porque eu vi que ele estava sentindo desde o primeiro round. Na cabeça, isso vai drenando o cara. No segundo round, eu consegui equilibrar. E no terceiro eu sabia que teria de ir para o tudo ou nada. Um a um, medalha olímpica em jogo. Foi guerra.
Abner deixou o ringue ainda acelerado. Parecia não acreditar muito bem no que estava vivendo. O pugilista, nascido em Osasco, mas descoberto em um projeto social em Sorocaba, usou o bom humor para definir sua virada na luta contra Iashaish.
– Senti alívio, porque foi uma luta dura. Porque eu ganhei, mas não foi manteiga. Foi duro, pau a pau. Vesti o Rocky Balboa, vai e vem, vai e vem. Foi isso, foi um alívio quando ganhei. Que teste! – brincou.
Ainda que o foco estivesse totalmente na luta, Abner tentou não pensar apenas na medalha olímpica. Encarou o embate contra o rival como se fosse qualquer outro duelo, seja em um ringue olímpico ou no quintal de casa.
Abner Teixeira vai à semi no boxe e garante medalha nas Olimpíadas de Tóquio — Foto: Buda Mendes/Getty Images
Nascido em Osasco, Abner se mudou cedo para Sorocaba, no interior de São Paulo, onde conheceu o projeto social “Boxe – Mãos para o Futuro”, do professor Vladimir Godoi. Foi lá que descobriu a paixão pelo esporte.
– A medalha é importante, mas não só a medalha olímpica. Qualquer luta. Está no meu instinto, eu sou lutador. Qualquer luta que estiver assim, eu sabia que teria que ir para o tudo ou nada. Se fosse medalha olímpica ou no quintal em casa, seria do mesmo jeito.
Nas arquibancadas da imponente Arena Kokugikan, templo do sumô no Japão, não havia torcida, por conta da pandemia. As delegações de Brasil e Jordânia, porém, protagonizaram um duelo à parte. Durante a luta, membros de comissões dos dois países disputavam o apoio aos pugilistas no grito. Abner, no entanto, tentou ouvir apenas as orientações de seus técnicos.
– Brasil estava em peso. Mas a torcida dele também, estavam gritando para caramba. Mas o Leo, o Herbert, Keno, o pessoal não deixou a desejar, não. Eles gritavam também. Mas eu tentei não ouvir tanto. Mais no intervalo. Meu foco estava todo no Mateus e no Amônio (técnicos). Eu só consegui ouvir a voz deles. Falaram para continuar a trabalhar.
Abner é bicampeão brasileiro juvenil e de elite. Hoje, é uma das referências no boxe nacional na categoria acima de 91kg. Nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em 2019, Abner conquistou a medalha de bronze. O brasileiro luta de novo na próxima terça contra o cubano Julio la Cruz. Se vencer, avança à final. Se perder, fica com o bronze em Tóquio.