Campo Grande, 13 de novembro de 2024

Ex-Sevilla e Barça, Daniel Alves diz que é especial enfrentar Espanha na final: “Pedacinho do coração lá”

Aos 38 anos, o lateral Daniel Alves vai jogar a primeira final olímpica na vitoriosa carreira. O jogador do São Paulo se vê próximo de mais uma conquista para sua extensa galeria de troféus – mais de 40 títulos – num papel de líder do grupo em Tóquio.

Contra a Espanha, o ex-jogador do Sevilla e Barcelona – que lembrou do carinho, amor e até a dupla nacionalidade que tem na Espanha– aposta em jogo de paciência para superar os rivais na decisão deste sábado, em Yokohama, a partir das 8h30 – horário de Brasília. Com muitos anos da carreira vivendo no país europeu, o jogador disse que é especial enfrentá-los na final.

Lateral-direito Daniel Alves posa para foto em treino da seleção olímpica — Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Lateral-direito Daniel Alves posa para foto em treino da seleção olímpica — Foto: Lucas Figueiredo / CBF

– Para mim, de verdade, poder enfrentá-los é um grande prazer, uma grande honra. Estava até brincando com a galera, eu tenho um pedacinho do coração na Espanha, minha segunda nacionalidade é espanhola. Poder enfrentá-los por tudo o que vivi lá na minha carreira e como pessoa, é muito especial. Tenho um carinho e um amor especial por esse país – contou o jogador.

Em ótima forma na Olimpíada, o jogador tem como meta final na carreira jogar a Copa de 2022, no fim do ano que vem no Catar. Ele disse que tudo passa pela preparação do time. Enumerou os verbos jogar, competir, focar, executar. Toda a concentração na grande decisão.

– Esse é nosso intuito, evidentemente respeitando o adversário, que tem uma qualidade especial e diferente, a qual eu pude acompanhar e desfrutar de perto. Estou aqui representando meu país. Tem que estar preparado, porque vai ser um dia difícil, mas especial por se tratar de uma final olímpica, por tudo o que envolve. Como por exemplo não ter a idade (olímpica), vir como extra e ter a confiança do estafe, da comissão, dos colegas de grupo. É uma responsabilidade que eu gosto, assumo e espero que nos preparemos bem. Será um dia duro de trabalho, mas especial, porque uma final, ainda mais olímpica, não se joga todo dia – disse.

Título sub-20 em 2003 contra a Fúria

 

Saiu do pé direito de Daniel Alves o cruzamento para o gol de cabeça de Fernandinho, em 2003, na final do Mundial sub-20, nos Emirados Árabes. O adversário? A Espanha. Daniel Alves já jogava no Sevilla e recorda com carinho daquela partida, daquela geração.

Na época, o coordenador de base era Branco, tetracampeão do mundo, que está de volta ao comando da base desde 2019. Daniel lembrou da longeva parceria com o atual dirigente da CBF.

– Encontrar pessoas com o astral e a seriedade que ele tem pelo trabalho, o valor que ele dá ao grupo, é muito prazeroso, ainda mais aqui na seleção, trabalhando e não de férias, como já aconteceu. É muito mais especial e gostoso. Nós nos criamos aqui dentro também, aqui nos deu uma estabilidade grande no cenário. Ele sabe o respeito e o carinho que eu tenho por ele. Mas é outro momento, são quase 20 anos daquele feito que conseguimos com outros companheiros – destacou.

A seleção brasileira treinou nesta quinta em Yokohama e ainda tem esperança de contar com Matheus Cunha. A provável escalação: Santos, Daniel Alves, Nino, Diego Carlos e Guilherme Arana; Douglas Luiz, Bruno Guimarães e Claudinho; Antony, Richarlison e Matheus Cunha (Paulinho).

 

Daniel Alves, cabeludo e com a camisa 2, na conquista do Mundial sub-20 em 2003, contra a Espanha — Foto: Instagram

Daniel Alves, cabeludo e com a camisa 2, na conquista do Mundial sub-20 em 2003, contra a Espanha — Foto: Instagram

Daniel lembrou, claro, que são gerações diferentes tanto na Espanha quanto na seleção brasileira, outras circunstâncias. E um sonho único: conquistar a taça, dar a volta olímpica. A medalha de ouro.

– São jogadores diferentes, histórias diferentes, outra geração, por mais que ainda haja alguns “roqueiros”, que são difíceis de morrer. Mas no contexto geral é outra época. A paixão, a gana, a vontade de fazer grandes coisas no futebol é muito grande, torna esse jogo especial, o adversário torna esse jogo especial, o momento torna esse jogo especial. Precisamos encarar dessa maneira e desfrutar. Não serão muitos os que estão aqui e poderão jogar outra Olimpíada. É um momento especial e momentos especiais você precisa se preparar bem, viver com muita intensidade, porque eles não voltam. A nossa ideia é colocar tudo o que temos na alma, no coração e na mente nesse grande dia – afirmou Daniel Alves.

Confira mais da coletiva de Daniel Alves

Jovens ainda no Brasil

– Jogue no Brasil ou fora, não deixamos de ser brasileiros. Estamos defendendo nosso país, sentindo nosso país, quando vamos fora temos a responsabilidade de representar nosso país. O que facilita o entrosamento e o estilo de jogo proposto é a base que foi mantida, praticamente a maioria do grupo vem jogando junto há um longo tempo, conhecem o treinador e o estafe, sabem o que eles gostam. Os que vieram agregar, como eu, Diego Carlos, Santos e o Richarlison são jogadores de alto nível, que assimilam o que é passado muito rápido. No fim das contas, o futebol continua sendo o mesmo no Brasil ou lá fora. Tem formas de fazer a equipe ser mais competitiva e jogar harmonicamente dependendo que está à frente, mas a vontade de vencer e colocar o nome na história continua sendo o mesmo. O facilitador é isso, o grande trabalho, as ideias que o estafe tem do que quer propor e os jogadores que jogam junto há muito tempo. Estamos aqui para agregar esse ponto de equilíbrio com nossa vivência e experiência, tendo convivido com grandes treinadores e escolas de futebol, é uma equipe que junta experiência com juventude e consegue performar e chegar nos objetivos planejados.

Daniel Alves comemora gol do Barcelona contra o Sevilla: lateral passou pelos dois times na Espanha — Foto: Getty Images

Daniel Alves comemora gol do Barcelona contra o Sevilla: lateral passou pelos dois times na Espanha — Foto: Getty Images

Lições da campanha

– As lições que a gente aprende durante toda competição é que você precisa ter uma resiliência e um nível de adaptabilidade muito grande, você enfrenta escolas diferentes, propostas diferentes de jogo e você precisa se adaptar rapidamente ao que demanda o jogo. Enfrentamos escolas diferentes de contextos e conteúdos, a adaptabilidade do grupo foi de nota super alta. E mais uma vez a gente vai ter que fazer isso. O México tentou mudar a sua forma de jogar, normalmente propõe jogo, não é equipe que joga para segundas bolas. A gente teve que se adaptar ao jogo deles e agora vai enfrentar uma equipe que gosta da bola e do jogo. Esperamos um grande jogo, porque são duas seleções que propõem, gostam da bola e não vão abrir mão disso para se adaptar a outra (estratégia). Vamos nos concentrar no jogo, nas ações que temos que fazer e utilizar nossas armas para conquistar o objetivo máximo, sabendo que temos que respeitar o adversário, como respeitamos os outros. Mas estamos aqui por um sonho, um objetivo e vamos tentar fazer por merecer mais do que eles.

Experiência

– É um grande prazer estar aqui, com grandes profissionais, tanto do estafe, quanto jogadores. É muito fácil lidar quando você tem ideias esclarecidas de quem você é, do que você quer, seus objetivos quando veste essa camisa e está aqui. Foi o que tentei deixar claro, independente da trajetória que tenho, das conquistas que tenho e de tudo o que vivi com a camisa da seleção brasileira, estamos em igualdade de condições, pois estamos estreando na competição.

– Não tem vaidade, ego, nada que atrapalhe a convivência, o grupo está à frente de qualquer possibilidade de ego, de que alguém possa olhar de uma maneira diferente porque estamos aqui sem a idade ou vindo da seleção principal. A gente procurou deixar isso claro, pois estamos atrás de um sonho, que não é só meu ou do mais jovem, é de todo mundo, por isso precisamos unir forçar, criar essa junção de boas intenções, assim vai deixando a convivência saudável, o ambiente saudável, na hora de trabalhar todo mundo sabe da minha conduta, meu proceder, que é de respeitar a profissão, os jovens que nela residem.

– Não sou do tipo que acha que o jovem tem que ser tratado diferente dos mais experientes, o respeito tem que ser com uma criança de dois ou três anos ou com um ancião. O respeito é a base de tudo e todo mundo tem uma história. Temos que respeitar as histórias, todo mundo traz uma história de luta, superação e vitórias, quando você consegue colocar isso no mesmo ambiente e fazer com que ele consiga respeitar todas as individualidades das pessoas, fica saudável e, em campo, é consequência do que acontece fora.

O que falar antes do jogo?

– Eu sou uma pessoa espontânea, quando a gente vai vivendo vão surgindo as palavras e frases para o momento, mas uma coisa que tenho fomentado aqui dentro é que estamos aqui dentro por um sonho e quando se está por um sonho as palavras têm que ser acompanhadas por atitude. É muito bonito falarmos disso, mas mais bonito ainda é fazermos a coisa acontecer. Esse discurso vai perdurar aqui dentro e na vida das pessoas, quando temos sonhos, temos que defendê-los como sentimos. É uma das coisas que fomentei durante toda nossa convivência, sem dúvida essa página precisamos escrevê-la com carinho, de uma forma especial, é um dia especial, um momento especial e uma competição especial, vamos colocar tudo da nossa parte para atingir o objetivo maior, sabendo que pela frente teremos um grande adversário e que teremos que fazer as coisas muito bem.

“Viver é o presente”

– Precisamos viver intensamente o presente, sem pensar muito a longo prazo. Longo prazo é plano, viver é o presente. O presente a gente tem que abrir todos os dias e desfrutar dele. Diante de tantas catástrofes e problemas mundiais, nós somos privilegiados de ter a vida que temos, fazer o que amamos, a família ter uma condição de vida boa… temos que valorizar isso! A gente vê a quantidade de pessoas passando dificuldade, lutando por viver dignamente, é o que comento para eles no dia a dia, na troca de experiências que temos quando nos reunimos. A ideia é trazê-los para a realidade. O mundo que a gente vive é um pouco surreal, um mundo paralelo. Tem que dar valor a todos os momentos, todos são sagrados e precisam ser encarados assim. Sempre penso que quando damos valor às pequenas vitórias somos merecedores das grandes. Temos que valorizar todos os dias as pequenas vitórias, o direito de estar aqui, vestir essa camisa, ter pessoas que se preocupam com nós, em dar o melhor para a gente performar, vai juntando tudo isso que tem que ter valor. É isso que falo para eles. Não me considero uma pessoa velha, por mais que queiram me retirar. Também te dou o direito de resposta (risos), porque não acredito que as pessoas sejam velhas, velhos são os museus, nós somos apenas mais experientes que os outros (risos).

Mira na Copa do Catar

– O objetivo sempre foi claro, antes mesmo das Olimpíadas. Eu tinha deixado claro que meu objetivo a nível de seleção é estar no Mundial de 2022, esse objetivo não mudou, só melhorou pelo fato de eu estar aqui, representando a seleção brasileira mesmo sendo numa idade diferente da que eu estava acostumado. Aproveito a oportunidade para parabenizar todos os atletas que estão nos representando aqui com muita dignidade. Está sendo prazeroso ver a garra, a luta, determinação, estamos vibrando muito com eles, nos sentimos identificados. Muitas vezes alguns podem não ter levado medalha ou conseguido a realização do sonho de colocar a medalha no peito, mas nos sentimos em muito tempo representados por eles, pois somos garra, determinação, entrega, conseguir quando ninguém mais acredita. Esse é o sentimento do brasileiro, que carregamos e tentamos levar.

– Quando vemos pessoas sem tanto investimento e cuidado conseguirem performar, colocar a medalha no peito, conseguem brigar com gente que investe muito… Conseguem porque somos um povo diferente, da raça, coragem, da luta contínua, que nos leva a lugares inimagináveis. Eu faço um chamamento aqui: sigamos investindo nos nossos atletas, porque eles têm o que muitos não têm, é um chamamento que faço. Sem demagogia, gostaria de parabenizá-los, tanto os que conseguiram medalha como os que não conseguiram, nos sentimos identificados pela luta e pela determinação deles numa competição tão grandiosa como as Olimpíadas.

Diferença de gerações

– Sem dúvida, eles vivem num outro momento, o mundo vive num outro momento. A tecnologia deu uma acessibilidade às pessoas muito grande, hoje qualquer um pode ser famoso, ter milhões de seguidores, ter um monte de coisa sem ter uma trajetória de luta, sacrifício, derrotas, reinventar-se… A internet trouxe essa facilidade entre aspas, das pessoas serem consideradas famosas e ícones sem terem feito nada. São épocas diferentes, uma outra geração, infelizmente nós que temos que nos adaptar a eles, mais do que eles a nós. É um outro momento, o mundo evoluiu muito rápido, hoje quem está tendo que se adaptar somos nós. Por sorte, estou convivendo com um grupo muito maduro apesar da idade, com pessoas conscientes dos valores reais da vida, do que tem que fazer, da maneira que tem que se comportar diante de um grupo, de um sonho, de um objetivo. Isso é um facilitador para mim. Me sinto muito honrado e surpreendido positivamente, por mais que sejam jovens já têm a consciência do que é ou não real.

Adversário conhecido

– Enfrentar uma seleção que eu conheço bem terá uma certa vantagem. É um prazer poder chegar na final com a Espanha. Todos sabem do carinho e o amor que tenho por esse país por tudo que me deu, uma parte minha é espanhola. Será um dia especial, temos que desfrutar, não é todo dia que chegamos numa final de Olimpíada. Cada um fará o seu para conquistar o sonho da medalha de ouro. Vamos jogar nossas cartas, tratar de propor o jogo, tomara que seja um grande espetáculo. Todos fizemos por merecer chegar nesse grande dia, como disse a meus companheiros, temos que fazer por merecer esse título. Não há merecimento maior para nós ou para eles, todos fizemos bem as coisas e agora é preciso dar um passo a mais, vamos tratar de colocar tudo o que temos para conquistar a vitória. Temos respeito pelos rivais, pelos jogadores que estão do outro lado.

Símbolo da medalha na pandemia

– O fato de a medalha só vai levar um pouco mais de alegria para as pessoas, muito mais para nós que estamos disputando, mas a solução para a retomada, para o momento que estamos vivendo são outras providências. Solucionar os problemas é só com os cuidados pertinentes, a vacina, a medicina e tudo o que envolve a solução desse problema. A gente sente muito o momento que o mundo está vivendo, poderia ser um momento diferente, muito mais especial, com as pessoas enchendo os estádios para desfrutar, infelizmente isso não foi possível. Sentimos muito isso. A única coisa que nós, que somos atletas, fizemos foi levar um pouco de entretenimento para as pessoas que estavam em casa, para que elas não padecessem de depressão. O fato de as pessoas terem uma vida dificultosa já não têm alegria, essa satisfação, e nós praticando o esporte com os cuidados pertinentes tentamos levar alegria a elas, foi por isso que continuamos.

– A retomada vai trazer, espero que traga, a consciência para as pessoas, que precisamos cuidar uns dos outros, ter responsabilidade. Quando um problema desse vem, não tem rico ou pobre, pode arrasar com todos. Que o ser humano comece a dar valor para as coisas que tem, continuamos frágeis, qualquer coisa pode nos colocar em problemas. Não acredito que uma medalha vá solucionar o problema do mundo ou da população, mas estamos aqui por um sono e vamos lutar por ele. A solução está em outro lugar, espero que sigamos fomentar mais a solução e não o problema, senão viramos um problema igual.

Por Redação do ge — Yokohama, Japão

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