Campo Grande, 25 de abril de 2024

Alex do Som retoma o Projeto Conhecendo Campo Grande, hoje fala um pouco da ¨Morada do Baís¨

O edifício hoje conhecido como Morada dos Baís foi construído em etapas, entre os anos de 1913 e 1918, para abrigar a família do italiano Bernardo Franco Baís. Segundo fontes orais, o projeto para o sobrado teria sido de responsabilidade do Eng. João Pandiá Calógeras e a construção teria ficado a cargo de um italiano chamado Mathias e acompanhada pelo próprio Bernardo Baís. Ainda na época de sua construção, no mesmo terreno, foi construída uma edificação térrea e linear com vários compartimentos que abrigava o setor de serviços, além de contar com uma área de jardim que ocupava praticamente toda a quadra (SILVA, 1985).

Na época da construção do sobrado, a Avenida Afonso Pena, a oeste, encerrava nas imediações da edificação, sendo prolongada apenas com a chegada dos quartéis no início dos anos de 1920. O edifício foi o primeiro sobrado da Avenida Afonso Pena, o primeiro sobrado em alvenaria de tijolos e o segundo sobrado no contexto urbano. A história oral local afirma que seu proprietário, Bernardo Baís, solicitou ao engenheiro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, responsável pela construção, para que fosse alterado o traçado da ferrovia para que a mesma passasse em frente ao casarão, fazendo então uma curva em planta, pedido que foi acatado pelo então engenheiro, porém o fato não se pode comprovar, pois talvez tal curva já fosse prevista desde o início em decorrência das áreas de várzea que os trilhos deveriam vencer para que conseguisse alcançar a oeste, saída para Corumbá.

A personalidade mais representativa nas artes em Campo Grande, Lydia Baís, filha de Bernardo Baís, morou no sobrado durante alguns anos. Em uma de suas passagens pelo edifício, provavelmente na década de 1930 (MARTINS, 2003), a artista pintou alguns afrescos nas paredes internas do edifício, pinturas essas que sobreviveram ao tempo e ainda permanecem nas paredes do edifício. O acervo da artista foi doado para a população do estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Fundação de Cultura, tombado em 1998 em nível Estadual pela resolução/SECE, estando sob a salva-guarda das obras até então.

Bernardo Franco Baís faleceu em 1938 e, por ironia do destino, atropelado pela Maria Fumaça que tanto amava. Após a morte do patriarca, o sobrado foi arrendado para o Sr. Nominando Pimentel em 1938, e ali instalou uma pensão, deste fato o nome pelo qual o sobrado ficou conhecido na cidade durante muitos anos, o de Pensão Pimentel. O edifício passou por um grande incêndio em 29 de junho de 1947, destruindo todo o madeiramento da cobertura e dos assoalhos. A partir de 1979, o sobrado deixa de ser pensão e abriga diversos usos para fins de comércio e serviços, tais como: sapataria, escola de datilografia, fornecimento de marmitas, costureira, conserto de TV, casa lotérica, alfaiate e etc. O período marcado pelos diferentes usos do edifício se estende até o ano de 1984, quando é parcialmente desocupado, restando apenas uma sapataria na Avenida Noroeste (SILVA, 1985).

O edifício ficou desocupado e abandonado pelos anos subsequentes, sendo que, em 1988, passou pelo 2º incêndio de sua história que danificou parcialmente o madeiramento da cobertura, esquadrias, piso e uma das escadas, bem como problemas graves com os rebocos das alvenarias (MELO, 1988). Em 1993, foi incorporado ao patrimônio do município que em parceria com o SEBRAE/MS iniciou o processo de recuperação do prédio e revitalização do espaço do casarão da Avenida Afonso Pena, o uso destinado após os serviços de engenharia e arquitetura foi o de Centro de Informações Turísticas e Culturais de Campo Grande (SECTUR, 2018). O projeto para o casarão foi desenvolvido pelos arquitetos Regina Maura Lopes Couto, Fernando Antônio de Castilho e Mário Sérgio Sobral Costa. A intervenção partiu do princípio norteador de devolução deste espaço público à sociedade, e também pelo entendimento que a recuperação do edifício passava, necessariamente, pela recuperação dos afrescos pintados por Lydia Baís.

Em 17 de maio de 1995 é inaugurado o Centro de Informações Turísticas e Culturais e o prédio da Morada dos Baís é devolvido para a sociedade, totalmente recuperado. O edifício abrigou ainda o Museu Lídia Baís, a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes e diversas atividades e manifestações culturais.

Em 2015, o Termo de Autorização de Uso nº 03 autoriza o Serviço Social do Comércio – SESC, Administração Regional no Estado de Mato Grosso do Sul, a utilizar de forma compartilhada o espaço físico do imóvel ‘’Morada dos Baís’’, de propriedade da Prefeitura Municipal de Campo Grande.

A Morada dos Baís foi erigida com influências do ecletismo europeu, estilo presente no Brasil desde o final do século XIX e início do século XX, e que representava principalmente a ornamentação das fachadas e a profusão de estilos em um mesmo edifício. O valor cultural do edifício se faz presente nas diferentes análises possíveis em relação ao bem, no âmbito político, por exemplo, pois possui relação direta com Bernardo Franco Baís, 1º Juiz de Paz e 1º Intendente de Campo Grande, tendo o italiano contribuído na implantação e desenvolvimento da cidade em sua gênese, além de ter sido um dos principais comerciantes da região sul do antigo Mato Grosso no início do século XX, chegando a ser sócio de uma das principais casas de comércio de Corumbá, a WANDERLEY, BAÍS & CIA, empresa que movimentou a economia da região.

Síntese Histórica:

Data de Construção – 1913 a 1918

Nome do construtor – Segundo fontes orais, o projetista seria o engenheiro João Pandiá Calógeras.

Técnicas Construtivas –  Alvenaria de tijolos maciços revestido com argamassa, aberturas com quadros e vedos de madeira e vidro, cobertura em trama de madeira e telha  de barro  tipo francesa.

Descrição arquitetônica – Embasamento em soco corpo com trama de pilastras colossais emparelhadas. Faixa à altura do pavimento com balcões. Aberturas em arco pleno no térreo, com molduras de arquitrave e aduelas de fecho. Coroamento com arquitrave, friso, cornija e muro ático. Frontispício com frontão redondo e óculo no tímpano. Na lateral, frontão triangular. Elementos de arremate de coroamento agulha. Inspiração eclética.

Tombamento pelo município – Diário Oficial, o Decreto nº 5390, de 04 de Junho de 1986.

Localização – Esplanada Ferroviária, s/n – Centro

Texto: João Henrique dos Santos (Arquiteto e Urbanista)

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Alex Do Som Oliveira

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