Estreante no tradicional rali, brasileiro conquistou melhor colocação do país na história ao lado do navegador alemão Timo Gottschalk. Aos 32 anos, paulista é bicampeão do Sertões
Por Bárbara Mendonça — Rio de Janeiro
Um nome que se consolida na história do off-road brasileiro. No último domingo, Lucas Moraes fez história ao conquistar o terceiro lugar no rali Dakar, tido como o mais difícil do mundo, na categoria carros. O detalhe? Além de subir ao pódio, carimbando o melhor resultado de todos os tempos para o país, Lucas conseguiu a façanha enquanto estreante na prova.
– Foi obviamente muito acima das nossas expectativas. A estatística não ajuda muito quem vai pela primeira vez (risos), então poder ter esse resultado histórico, primeiro pódio do Brasil no Dakar na categoria mais tradicional… Foi muito bacana. Meu objetivo inicial era terminar, e se conseguíssemos o top 15 seria um baita bônus. Um terceiro lugar foi muito acima do esperado – disse Lucas, em bate-papo exclusivo com o ge.
Antes de Lucas, a melhor colocação do Brasil no Dakar pertencia a Klever Kolberg/Pascal Larroque, que terminaram em oitavo entre os carros em 2002. Ao superar a marca, Moraes reforça o respeito pelos brasileiros que se aventuraram no rali: além de Kolberg, André Azevedo, Guilherme Spinelli, Leandro Torres e Gustavo Gugelmin são apenas alguns dos nomes de destaque.
– Respeito muito o Klever e outros brasileiros que fizeram antes de mim, desbravaram Dakar ainda lá no início. Depois, Dakar virou o que virou. Os resultados que esses brasileiros tiveram foram incríveis. Poder representar (o país) dessa forma e ser o novo melhor resultado do Brasil é um peso grande, mas que me dá muito orgulho ao mesmo tempo. A gente sabe como esse resultado foi importante para o rali no Brasil.
“Se puder ajudar o rali como um todo no país, isso me deixaria muito satisfeito. O terceiro foi excelente. Quem sabe a gente consegue voltar e melhorar esse resultado?”, completou.
Nas dunas da Arábia Saudita, Lucas fez valer o conjunto forte da equipe Overdrive, tendo ao seu lado o navegador alemão Timo Gottschalk. Os dois concluíram a prova em 46h41m46s, uma variação de 1h38m31s para os campeões Nasser Al-Attiyah e Mathieu Baumel, mas a parceria ainda é recente.
A Overdrive acionou Timo a três meses do início do Dakar, “bem em cima da hora”, nas palavras de Lucas. A primeira disputa da dupla Brasil-Alemanha foi no Dubai International Baja, rali disputado no início de dezembro, quando Moraes e Gottschalk ficaram na quinta colocação.
No Brasil, o grande companheiro de Lucas é o navegador Kaique Bentivoglio, com quem foi bicampeão do Sertões (2019/2022). Mas as especificidades de uma prova arenosa impulsionaram a equipe a buscar Gottschalk – que, por sua vez, tem mais de 15 edições do Dakar na bagagem.
– A natureza do Dakar, por definição, é muito difícil. Na maioria dos outros ralis, você anda em estradas já feitas, de fazendas etc. O deserto é algo muito místico e, ao mesmo tempo, muito perigoso. (…) É uma navegação diferente, porque não há estradas por muitas vezes. Você segue o rumo que a organização dá na planilha, que no fundo é o grau da bússola. Tem muitas nuances – acrescentou.
E se hoje Lucas tem o nome marcado no off-road brasileiro, sua participação no Dakar 2023 se deve, em parte, ao último título no Sertões. Mesmo reticente, o paulistano encarou o troféu em setembro de 2022 como o “empurrãozinho” que faltava.
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Timo Gottschalk e Lucas Moraes, terceiros colocados no Dakar 2023 — Foto: Duda Bairros/Fotop
– Um mês antes (do Sertões), corri uma etapa do Mundial na Espanha e fiquei em terceiro. A partir desse resultado, surgiram oportunidades no Dakar. Na sequência veio o Sertões, e ali realmente se abriram as portas. Fiquei muito na dúvida, é uma responsabilidade muito grande. Não queria ir às vezes sem muito preparo, queimar o filme, queimar uma oportunidade. Demorei alguns dias refletindo.
Duas “aulas magnas” gratuitas
Na terceira colocação, Lucas ficou atrás apenas de Nasser Al-Attiyah – agora pentacampeão do Dakar – e de Sébastien Loeb, lenda do WRC. Ao ge, o brasileiro brincou com a oportunidade de correr e aprender com os dois adversários.
– Tive duas aulas magnas com os dois. Em dias distintos, tive a oportunidade de andar por mais de 40km atrás dos dois, um empurrando o outro. Com o Loeb, chegamos em um trecho final, ele veio na minha porta e falou “pô, você gosta de me seguir” (risos). E no fundo foi uma grande honra, porque estava aprendendo ali como esses caras andam.