Diário italiano aponta manobras na internet e ‘perigo’ de ação de hackers nos dias anteriores ao início da eleição do novo Pontífice
Por O Globo com agências internacionais — Roma
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Não é de hoje que correntes católicas tentam interferir e direcionar as escolhas do conclave, inclusive para minar as chances de “candidatos indesejados”. Mas, com a popularização da internet, tais manobras se tornaram mais evasivas, ambíguas, escondidas por trás do anonimato e de virais nas redes sociais, ressalta o diário.
Em 2013, por exemplo, críticos de Jorge Mario Bergoglio espalharam que o argentino, então cotado para suceder o Papa Bento XVI, tinha apenas um pulmão. Alguns cardeais o questionaram sobre isso durante o conclave, e o futuro Pontífice precisou esclarecer: em 1957, aos 21 anos, perdeu o lobo superior do pulmão direito por causa de três cistos, mas o órgão acabou por se expandir e se adequar ao hemitórax.
Procissão, recepção do corpo e liturgia: as imagens do início do adeus ao Papa Francisco
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Hoje, um candidato pode ser atingido de forma ainda “mais eficaz”, com mentiras que vão desde a sua saúde a acusações de acobertamento de pedófilos. O Corriere della Sera destacou que o pontificado de Francisco enfrentou uma resistência tradicionalista online “bem organizada e financiada”, com epicentro nos setores mais conservadores da Igreja nos Estados Unidos.
Um livro de Nicolas Senèze expôs, como aponta seu título, “Como a América quis mudar o Papa”. Na obra, de 2019, o jornalista cita as manobras conduzidas pela extrema direita católica americana para afetar um novo conclave.
“Um ‘grupo para uma melhor governança da Igreja’ apresentou a potenciais doadores uma operação chamada ‘Red Hat Report’, que tinha um orçamento de um milhão para elaborar ‘em dois anos’ um dossiê para cada cardeal eleitor, com foco em acusações e rumores de ‘abusos’, ‘corrupção’, etc”, explica o “Corriere”, com base no livro de Senèze.
Um dos objetivos, de acordo com o jornal italiano, era modificar os perfis dos cardeais na Wikipédia. “Se tivéssemos feito isso antes, talvez não tivéssemos o Papa Francisco”, teriam concluído os desafetos do latino-americano.
O grupo ainda espalhou um dossiê contra Bergoglio feito por Carlo Maria Viganò, ex-prelado da Igreja que chamou Francisco de “servo de Satanás” e acabou excomungado em 2024 pelo delito de cisma. Dos Estados Unidos, o National Catholic Register, parte da rede EWTN (Eternal Word Television Network), epicentro midiático da oposição, cuidou disso, diz o jornal.
Nos últimos anos, o Vaticano reforçou publicações nos sites Vaticannews.va e Vatican.va, com notícias, documentação e biografias. Segundo o Corriere, as medidas levaram em conta, também, o temor de o conclave ser influenciado por ataques anônimos de hackers.
A portas fechadas na Capela Sistina, os cardeais ficam sem acesso a celulares e computadores, mas isso não se aplica aos dias anteriores ao início do processo.