O que você consegue fazer em 2m42s? Comer um sanduíche? Tomar uma cerveja? Escovar os dentes? Pode ser. Mas pouquíssimas pessoas conseguiriam, neste curto intervalo de tempo, fazer o que o peso-pesado camaronês Francis Ngannou conseguiu: vencer quatro lutas por nocaute no UFC contra nomes como Curtis Blaydes, Cain Velásquez, Junior Cigano e Jairzinho Rozenstruik. A fase excepcional do gigante africano o faz ter a certeza de que tem plenas condições de repetir o feito contra o atual campeão, o americano Stipe Miocic, que já o derrotou na primeira vez em que se enfrentaram, no UFC 220, em 2018. Em entrevista exclusiva ao Combate.com, Ngannou garantiu que mudou muito daquela luta para agora, e mesmo que Miocic também tenha evoluído, ele acredita que teve mais espaço para se desenvolver que o americano.
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Francis Ngannou pode vir a ser o primeiro africano campeão peso-pesado do UFC — Foto: Getty Images
– Eu mudei tudo desde a primeira luta, e consegui ótimos resultados. Consegui treinar melhor e de forma mais conveniente para mim, agora estou treinando bem, me sinto mais saudável e muito bem, e mal posso esperar ser liberado para caminhar rumo ao octógono para a luta do próximo sábado. Honestamente, não quero cometer o erro que cometi na primeira luta. Vou lá para nocauteá-lo e espero vencer muito rapidamente. Não tenho nenhuma outra expectativa que não seja vencer. É somente isso o que me interessa: vencer. Não importa como. Não quero ocupar a minha mente com nada que não seja o meu objetivo maior nessa luta. Com certeza Stipe também mudou desde a nossa luta, mas não sei o que. Só sei que ele evoluiu, mas acredito que eu tenha tido mais espaço para evoluir do que ele. Havia muitos buracos no meu jogo naquela época, e muito espaço corrigir o que estava errado. Eu não sabia como controlar algumas coisas, como tomar as decisões corretas para conseguir o que eu queria. Mesmo tendo sido difícil tomar essas decisões, eu sei que fiz o que era certo para atingir o meu objetivo.
A possibilidade de ser o primeiro africano campeão dos pesos-pesados do UFC é vista por Ngannou como um grande peso para carregar nos ombros, mas que, segundo ele, pode ser o caminho que precisa ser trilhado para a glória, e também para ter o que contar às próximas gerações.
– Às vezes é um pouco estressante ter esse peso todo para carregar. Mas no fim das contas é o preço da grandeza. Será uma bela história a ser contada aos meus filhos e meus netos.
Perguntado sobre os treinos com Kamaru Usman, o nigeriano campeão peso-meio-médio do UFC, Ngannou disse que eles não conseguiram fazer muitos treinos, pois Usman já tem uma luta marcada contra Jorge Masvidal e está se preparando para ela. Mas garantiu que o amigo estará no seu córner no sábado.
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Stipe Miocic e Francis Ngannou lutam pela segunda vez, sábado, em Las Vegas — Foto: Getty Images
– Nós não tivemos muitas chances de treinar juntos, já que ele tem uma luta marcada. Kamaru esteve comigo algumas vezes, tentou me dar alguns conselhos, e estará no meu córner, que é o mais importante. Ele vai me orientar como um irmão, com toda a sua experiência no wrestling. Ele estará lá como campeão.
Além de brilhar no MMA, Francis Ngannou vem desempenhando um papel importante como cidadão em Camarões. O lutador criou a “Francis Ngannou Foundation”, uma fundação que busca dar oportunidades a crianças que, como ele, não possuem perspectivas de vida no seu país.
– Eu me sinto muito feliz com a minha fundação, porque é o meu jeito não só de retribuir, mas também de ajudar aquelas crianças, que estão no mesmo ligar em que eu estava. Eu sei exatamente como é estar na posição em que eles se encontram, de não ter nenhuma chance na vida. Quero que eles saibam que terão uma chance, não importa de onde eles sejam. Eles poderão realizar os seus sonhos, tendo a mim como exemplo, e como eu realizei o meu sonho. Eu era como eles, e não sou melhor do que eles em nada. Somos todos iguais. A única diferença entre nós é que eu acreditei no meu sonho. Se eles acreditarem nos deles, vão conseguir também. A fundação está indo muito bem, porque temos muitos voluntários. Somos uma organização sem fins lucrativos, que vive de doações e de trabalho voluntário para existir. Estamos progredindo. Hoje temos em nossa sede mais de 100 crianças, e eu tento ajudá-los de todas as formas possíveis. Temos uma parceria com um hospital, que nos ajuda a dar a essas crianças atendimento médico, já que elas não têm acesso a isso. Agora estamos planejando construir uma segunda sede, com uma academia e precisaremos de voluntários para ensinar artes marciais jiu-jítsu e boxe.
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Joel Embiid, do Philadelphia 76ers da MNA, é um dos ídolos esportivos de Camarões — Foto: Getty Images
Estrela do esporte em seu país, ao lado do futebolista Roger Milla e do jogador de basquete da NBA Joel Embiid, Francis Ngannou sabe que é um grande espelho para os jovens compatriotas, principalmente os que buscam o MMA como esporte. O lutador vem tentando buscar treinadores que queiram ir para Camarões para treinar jovens da sua fundação para que, no futuro, o país tenha uma legião de atletas representando suas cores pelo mundo.
– O MMA está crescendo muito em Camarões. O problema é que ainda não há oportunidades suficientes, como academias e locais para se treinar. Também não temos treinadores de alto nível, e é por isso que estou tentando encontrar treinadores que queiram ir para Camarões, de onde quer que sejam, para ensinar as crianças da fundação. O principal é que estamos motivando as pessoas, dando a eles esperança. Não há muitos atletas bem sucedidos no nosso país, porque as oportunidades quase não existem. Os poucos que conseguem servem de exemplo, porque as pessoas veem e sonham ser iguais a eles. Acho que é isso que tenho em comum com os grandes nomes do esporte camaronês. Sermos exemplos e inspiramos o nosso povo.
A conquista do cinturão de campeão do UFC, segundo Ngannou, será a realização do sonho do menino pobre da cidade de Batie, e também o início de um novo capítulo na sua vida. Perguntado sobre qual o legado que pretende deixar no MMA, Ngannou foi direto: ser o maior nocauteador da história do UFC.
– O cinturão significa tudo para mim. Ele vai mostrar que eu sou o campeão mundial, e eu terei realizado o meu sonho, um objetivo que foi estabelecido há muito tempo. Não sei bem como explicar isso, mas acredito que seja o fim de um capítulo e o início de outro. Quero ter o maior número de nocautes no peso-pesado e em qualquer categoria.
Serviço do UFC 260
O Combate transmite o UFC 260 ao vivo e com exclusividade neste sábado a partir das 20h10 (horário de Brasília). O SporTV 3 e o Combate.com mostram o “Aquecimento Combate” e as duas primeiras lutas ao vivo no mesmo horário; o site acompanha todo o evento em Tempo Real.
UFC 260
27 de março de 2021, em Las Vegas (EUA)
CARD PRINCIPAL (23h, horário de Brasília):
Peso-pesado: Stipe Miocic x Francis Ngannou
Peso-meio-médio: Tyron Woodley x Vicente Luque
Peso-galo: Sean O’Malley x Thomas Almeida
Peso-mosca: Gillian Robertson x Miranda Maverick
Peso-leve: Jamie Mullarkey x Khama Worthy
CARD PRELIMINAR (20h30, horário de Brasília):
Peso-meio-pesado: Alonzo Menifield x Fabio Cherant
Peso-meio-médio: Jared Gooden x Abubakar Nurmagomedov
Peso-meio-pesado: Modestas Bukauskas x Michal Oleksiejczuk
Peso-pena: Shane Young x Omar Morales
Peso-médio: Marc-André Barriault x Abu Azaitar