Independentemente do que aconteça na partida entre Brasil e Colômbia, neste domingo, Neymar fará história mais uma vez. O atacante chegará a 114 jogos pela Seleção, ultrapassará Pele e Djalma Santos, e se isolará como o quinto jogador que mais vestiu a amarelinha.
O líder do ranking é o ex-lateral-direito Cafú, com 150 atuações pela Seleção.
Neymar já é o segundo maior artilheiro do Brasil, com 69 gols, atrás apenas de Pelé. O Rei tem 77 gols nas contas da Fifa e 95 nas da CBF (que inclui jogos contra times e combinados).
O craque do Paris Saint-Germain estreou com a amarelinha em 10 de agosto de 2010, quando abriu o placar na vitória por 2 a 0 sobre o Estados Unidos, em amistoso disputado em Nova Jersey.
Desde então, ele acumulou grandes atuações, polêmicas e um título: o da Copa das Confederações de 2013. Ele também faturou a medalha de ouro nas Olimpíadas do Rio, em 2016, e o Sul-Americano Sub-20 de 2011.
Jogadores com mais de 100 jogos pela Seleção — Foto: Infoesporte
Alvo de elogios e críticas por parte da torcida e da crítica, Neymar fez um desabafo na saída de campo após a última partida dele pela Seleção, mês passado, contra o Peru:
– Não sei mais o que faço com essa camisa para a galera respeitar o Neymar – disse o atacante.
Tal dilema foi repassado a comentaristas da Globo: o que o camisa 10 precisa fazer para ser respeitado? Confira abaixo o que eles disseram:
Não é uma questão de respeito. Neymar e qualquer jogador, qualquer ser humano, devem ser respeitados sempre. Princípio básico da vida em sociedade. Agora, para que as reclamações de Neymar tenham credibilidade, ele precisa ser mais claro. Quem o está desrespeitando? Não adianta falar “vocês”, “repórteres”. Quem fez? Quando? Como? O que o faz se sentir assim?
Novamente, não se trata de respeito, que nem deveria estar em jogo, mas a admiração por Neymar poderia crescer se ele, como líder e referência da seleção brasileira, se posicionasse sobre assuntos importantes à população. Ele e a grande maioria dos jogadores acreditam que basta vestir a camisa amarela para representar o país, e não é assim. A Seleção não é o país. Que palavra de estímulo esses ídolos deram sobre vacinação? Que ação foi feita para tentar reduzir os danos de um período trágico? Não é política, é humanidade.
Neymar só precisa existir para ser respeitado. Não depende de gols ou assistências. Ele tem todo o direito de se manifestar quando se sentir desrespeitado. Se o fizer com clareza, será melhor.
Se o Brasil de Tite tem problemas, Neymar definitivamente não é um deles – e os números mostram isso. Neymar tem entre os seus antecessores jogadores que foram geniais e vitoriosos também com a camisa da seleção brasileira, como Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho, então no imaginário popular e também da mídia especializada as comparações são inevitáveis. E quais são essas comparações? Os números são ótimos, mas o patamar do Brasil quando nos referimos ao futebol da seleção diz respeito a uma Copa do Mundo. Essa marca ainda carrega o Neymar, ou seja, a nota de corte dele é nada menos que um título mundial, o que é uma tremenda injustiça. Acho que perdemos (torcedores e mídia especializada) muito tempo procurando argumentos pra criticar Neymar e não discutimos com a mesma intensidade e necessidade de debate os reais problemas da equipe brasileira – e aí sim, são muitos.
Muito se fala sobre o comportamento individual do Neymar, da imagem dele como profissional, gosto de destacar que nós queremos um ídolo que corresponda à nossa expectativa de comportamento, ignorando o livre arbítrio e a personalidade de cada um. Neymar não quis esse caminho e não se cercou de profissionais que o conduzisse pra maturidade da posição que ele ocupa. Ele se “limita” ao campo e bola e ali ele é o melhor que nós temos nos últimos 10 anos.
Os feitos de Neymar pela Seleção já são mais que suficientes para que ele mereça todo nosso respeito.
Neymar lidera a Seleção desde 2010, aos 18 anos, como principal referência técnica, sem que houvesse uma “passagem de bastão” e num período claro de escassez de grandes estrelas a nível mundial no nosso futebol. Mas, pelo peso da nossa camisa e pela cultura em si do brasileiro, a cobrança geral acaba sendo resumida apenas à conquista de uma Copa ou troféu de melhor do mundo.
Existe uma antipatia ligada à “pessoa Neymar”, por vezes também alimentada por ele próprio, que reflete numa cobrança exagerada e contamina a análise do “atleta Neymar”, que sempre mostrou apreço em defender a seleção. E se hoje o Brasil ainda está presente entre as seleções mais competitivas do mundo, ele é fator determinante.
O Neymar não é respeitado como deveria na seleção pelo que ele faz fora de campo. Então de cara já adianto que essa é uma situação sem solução. Mesmo que ganhe uma Copa do Mundo e vire o maior artilheiro da história da seleção (em qualquer conta possivel), ainda assim seu comportamento continuará influenciando na análise de boa parte dos profissionais e no gosto de boa parte dos torcedores.
O ideal seria, sem dúvida, ter nossa principal referência técnica também como um líder de ótimas referências e posicionamentos contundentes e condizentes com a figura de um ídolo nacional. Não é o caso. Mas isso não diminui uma vírgula do grande jogador que é. Até porque já relativizamos comportamentos inadequados de outros jogadores no passado que são muito bem conceituados até hoje. Ou não?
Acho que há exageros dos dois lados. Tanto da parte de Neymar de se intitular “o grande injustiçado” do futebol brasileiro quanto da parte das críticas direcionadas a ele. É fato que a personalidade do Neymar, quem ele é fora de campo, não agrada muita gente. Mas isso não deveria interferir na avaliação do desempenho dele dentro das quatro linhas.
Se pensarmos nos últimos craques do futebol brasileiro, eles dividiam um pouco dos holofotes com outros que surgiam nas gerações seguintes. Quando Ronaldo surgiu, Romário ainda jogava, Rivaldo já era craque. Aí veio Ronaldinho Gaúcho. No caso de Neymar, há algum tempo ele cumpre, sozinho, o papel de ser O CRAQUE da seleção brasileira. Então todas as expectativas e frustrações são depositadas nele – e às vezes acho que não nos damos conta do quão espetacular é o que ele fez/faz em campo. E acaba que as críticas em algumas situações passam do ponto.
De toda forma, acho que a reação dele a tudo isso também é desproporcional, de um cara que ainda é imaturo e demonstra ser muito mimado. Ser o maior nome do futebol brasileiro traz consigo, na mesma proporção, a delícia de ser idolatrado por uma multidão, e a dor de ser criticado por ela também. Olha o que acontece com o Messi na Argentina? O maior jogador do país pós-Maradona é o mais amado e o mais criticado também. Mas como Messi reage às críticas e como Neymar reage a elas? Às vezes, acho que Neymar dá importância demais aos críticos – e ele já passou da idade de ficar dando recadinho nas redes sociais.
Por Bruno Cassucci e Raphael Zarko — Barranquilla e Rio de Janeiro