Análise: vitória do Flamengo no abafa não esconde “modo arame liso” dos últimos três tempos
Time de Sampaoli cerca, fica com a bola, mas encontra enorme dificuldade para finalizar, algo que já havia demonstrado contra Fluminense e Racing
O Flamengo conquistou vitória importantíssima contra o Corinthians aos 48 minutos do segundo tempo. A forma como conseguiu o 1 a 0, porém, em nada tem a ver com com o futebol bem jogado que Jorge Sampaoli tanto prega. Os rubro-negros esbarraram no modo “arame liso” em três tempos consecutivos – o segundo do empate por 0 a 0 com o Fluminense, pela Copa do Brasil, e os dois deste domingo.
É verdade que o domingo também foi de duros golpes no setor criativo. Cedo, o clube divulgou que Everton Ribeiro tem lesão no músculo anterior na coxa direita. Para piorar, mais tarde Arrascaeta sentiu incômodo na coxa direita durante o aquecimento e acabou cortado.
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Paulinho em Flamengo 1×0 Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians
Time leva perigo somente no fim do primeiro tempo
Diante de uma retranca muito bem armada por Vanderlei Luxemburgo, o Flamengo começou o primeiro tempo no mesmo “modo arame liso” que o impediu de aproveitar a desvantagem numérica do Fluminense na última terça-feira, quando Felipe Melo foi expulso no início do segundo tempo. Tal dificuldade de penetrar barreiras também se demonstrou contra o Racing, em 4 de maio, quando também jogou por muito tempo com um a mais.
Rodava a bola de um lado para o outro, voltava no goleiro Santos e não machucava. Prova maior do quão estéril era o Flamengo é que os zagueiros Fabrício Bruno, Léo Pereira e os volantes Thiago Maia e Erick Pulgar terminariam como os melhores jogadores em campo. Os quatro seriam assim avaliados, independentemente de Léo ter virado herói e camisa 9 no fim do duelo.
Fabrício e Pulgar eram os que mais arriscavam os passes verticais. O chileno, com timing ajustadíssimo, encontrou Gabigol dentro da área aos 18 minutos com uma bela enfiada, porém o camisa 10 foi travado por Bruno Méndez.
No fim da etapa, Gabriel apareceu numa boa finalização em jogada iniciada com passe vertical de Thiago Maia, que pouco antes havia chutado para fora. Na sequência, Victor Hugo bateu para fora após boa triangulação com Gabigol e Pulgar, mas foi pouco. Muito pouco para um time bastante superior tecnicamente.
O Flamengo, que chegou a ter 73% de posse de bola com 25 minutos e foi para o intervalo com 62%, finalizou apenas cinco vezes na etapa. E detalhe: as do Corinthians foram mais perigosas. Na maior parte da etapa, o time rubro-negro foi um deserto de ideias.
Mexidas demoradas e vitória com improvisação forçada
Sampaoli já poderia ter voltado do intervalo com Everton Cebolinha na equipe, mas só decidiu pela entrada do camisa 11 após o Flamengo sofrer um bombardeio nos minutos iniciais. Aos 7, Cebolinha entrou, mas o substituído talvez não fosse o ideal. Pedro deixou o campo com cara de poucos amigos, e um apagado Victor Hugo permaneceu.
Talvez a opção pela permanência de Victor tenha se dado pelas ótimas partidas feitas contra Bahia, Goiás e Athletico-PR. Além disso, pessoas próximas a Sampaoli garantem com que o treinador está encantado com o garoto, uma das grandes joias da base rubro-negra.
Se a entrada de Cebolinha foi tardia, a de Vidal mais uma vez mereceu questionamentos. Sampaoli recebeu vaias e ofensas por ter tirado Pulgar, àquela altura o melhor em campo, mas a torcida não sabia que o chileno havia pedido por conta de cãibras. A pergunta, porém, é: por que Vidal?
Por mais que o experiente jogador tenha qualidade no passe, ele não parecia a opção mais adequada para o jogo. Novamente sua entrada não deu o dinamismo pedido, e diminuiu ainda mais o ritmo de um Flamengo que seguia sua síndrome de “arame liso” tocando para um lado e para o outro.
No fim, já aos 37 minutos, botou Matheus Gonçalves no lugar de Victor Hugo, mas o habilidoso baixinho não tirou nenhum coelho da cartola. Coube ao imponderável agir pela vitória.
Aos 42, Léo Pereira sentiu incômodo no músculo posterior da coxa direita, mas não poderia sair porque Sampaoli já havia paralisado o jogo três vezes por substituições feitas no segundo tempo. O argentino viu-se obrigado a recompor a zaga com Thiago Maia para possíveis ofensivas do Corinthians e, numa atitude de quem quer ganhar o jogo a qualquer custo, mandou Léo Pereira para a área.
O resto o torcedor rubro-negro já sabe, e a ousadia foi premiada: aos 48, Cebolinha recebeu de Gerson e botou na cabeça do centroavante que foi preencher a lacuna deixada pela saída de Pedro. Como um autêntico jogador da posição, cabeceou no chão e não deu chances a Cássio.
Vitória na marra, na improvisação e na base da teimosia. Depois de jogos bons que não foram traduzidos em resultados, o Flamengo arrancou sua terceira vitória consecutiva e se aproximou dos líderes por seu esforço sem demonstrar um futebol vistoso.
Não é o ideal, merece atenção a dificuldade para se furar retrancas, porém o triunfo no finzinho renova as esperanças e traz dias de paz para um trabalho que precisa de resultados para prosperar. As vitórias abrem brechas para que um futebol de qualidade seja lapidado com paciência.