Nos dois primeiros jogos à frente do rubro-negro, o que se viu foi um Flamengo disposto a ocupar o campo adversário, colocar cinco homens — por vezes seis — na linha de ataque, empurrar seus rivais para trás. Tudo começava com uma linha defensiva adiantada, jogando no limite do risco. E, a partir daí, o time se instalava no campo de ataque e buscava construir espaços.
Não é possível dizer que a derrota para o Fluminense, time que soube explorar vulnerabilidades às costas da linha de defesa rubro-negra, alterou as convicções de Filipe Luís. O técnico reafirmou que se manteria fiel às suas crenças, mas logo o futebol apresentaria a ele um cenário atípico: uma semifinal contra o Corinthians, fora de casa, com uma vantagem para defender e um jogador expulso antes dos 30 minutos. Um problema que Filipe resolveu adaptando o plano às necessidades do jogo: abriu mão de um velocista, incluiu um zagueiro para defender melhor a área contra um rival que cruzava com frequência, e apostou em jogadores que controlavam o ritmo, retendo a bola.
A classificação em Itaquera levou o time ao Maracanã, onde um Atlético-MG com características bem específicas foi a chave para outro tipo de adaptação na estratégia. A escalação parecia um sinal. Gérson não seria o meia que parte da ponta direita, mas desta vez atuaria como um segundo homem de meio campo, sua terceira função diferente na curta passagem de Filipe Luís. Nas duas pontas, o Flamengo teria homens de velocidade, casos de Plata e Michael.
O jogo logo deixaria clara a ideia. Contra um time que adota marcações individuais pelo campo todo, por vezes defendendo no mano a mano, Filipe queria um jogo de atração do adversário para, em seguida, atacar em velocidade às costas da defesa mineira. Coube a Léo Ortiz, um zagueiro, ter papel fundamental na armação. No primeiro gol, no lugar de um passe rápido, ele espera. Somente quando Alan Franco, que marcava Gérson individualmente, decide largar o meia para pressioná-lo, é que Ortiz dá o passe para o camisa 8 rubro-negro. Gérson virara o homem livre, o que atrai Junior Alonso, um dos zagueiros do Atlético-MG. A partir daí, estava criado um enorme espaço às costas da pressão do time visitante. Wesley se livra de Arana, rompe em velocidade, e daí se origina o gol de Arrascaeta.
Não foi a única intervenção bem-sucedida de Filipe. Gabigol ganhou papel importante: por vezes, recuava para jogar de costas para o gol, atraindo seu marcador e gerando espaços. Aliás, em muitos momentos era ele próprio quem aproveitava os espaços para realizar algo que é sua especialidade: a infiltração.
No segundo tempo, quando a marcação mineira já criava mais problemas, Arrascaeta sofria fisicamente para conduzir os contragolpes do Flamengo. Filipe chamou Alcaraz, e foi ele quem deu o terceiro gol a Gabriel.
A Copa do Brasil não acabou, mas o ótimo passo que o Flamengo deu no Maracanã tem a assinatura de um jovem treinador que, certamente, está em formação. Mas não parece ter medo de tomar decisões e de se adaptar aos cenários.
Fim do ciclo de Marcelo no Fluminense
Marcelo deixou a sensação de ter algo a dizer, mas por ora preferiu não falar. Enquanto isso, quem vive o dia-a-dia tricolor traçou o cenário de uma relação desgastada com companheiros e comissão técnica. Ficou claro que, se fosse episódio isolado, o desentendimento com Mano Menezes seria contornável. Mas a rescisão do lateral e a firmeza do treinador na coletiva deixaram claro que a discussão teve uma cara de gota d’água.
Marcelo não é mais jogador do Fluminense — Foto: LUCAS MERÇON / FLUMINENSE FC
Não é justo dizer que o retorno de Marcelo ao Fluminense foi um fracasso. Campeão da Libertadores, ofereceu jogadas que deixavam uma certeza: ninguém mais em campo seria capaz de fazer aquilo. Mas, sem bola, sempre obrigou o time a adaptações para lidar com sua dificuldade defensiva ou com sua condição física. Marcelo ainda era um jogador raro tecnicamente, mas já não parecia o atleta disposto a todo tipo de sacrifício para se manter na elite.
É desafiador o cenário que o Botafogo enfrenta a partir do clássico de hoje, com o Vasco. Após garantir a vaga na final da Libertadores, o alvinegro começa a lidar com um teste físico e mental. É natural que a espera pela decisão do troféu mais cobiçado do continente crie ansiedade, expectativa e até temor de uma lesão em alguns jogadores. Ao mesmo tempo, cada partida do Brasileirão precisa ser vista como uma final.
Jogadores do Botafogo fazem conversa final antes do jogo contra o Peñarol — Foto: Dante Fernandez/AFP