Campo Grande, 11 de dezembro de 2024

Por que Trump sai em vantagem nas eleições nos EUA? Entenda

Pesquisa de intenção de voto no Wisconsin mostra empate técnico entre Kamala e Trump

Chegou o grande dia. Milhões de americanos vão às urnas nesta terça-feira eleger o 47º presidente dos Estados Unidos: a democrata Kamala Harris ou o republicano Donald Trump. Diferentemente do Brasil, o país adota um sistema de votação indireta conhecido como Colégio Eleitoral, que costuma beneficiar candidatos do Partido Republicano mesmo quando eles não são favoritos. Isso acontece porque, na prática, o processo eleitoral funciona mais como um conjunto de eleições estaduais — cada uma com suas regras — do que como uma grande votação popular ao redor do país.

Primeiro, é importante entender como funciona o sistema eleitoral americano. Nele, os cidadãos votam em delegados, que posteriormente elegerão de fato o presidente. O número de delegados por estado varia e é, em certa medida, proporcional ao tamanho da sua população. Na esmagadora maioria dos estados, predomina a regra chamada “o vencedor leva tudo”: o candidato mais votado pelos eleitores de um estado leva o voto de todos os delegados dele. As únicas exceções são Maine e Nebraska, que dividem os delegados por distrito.

Além disso, na maioria dos estados há a predominância de um partido. Nova York, por exemplo, sempre elege democratas, enquanto o Kentucky historicamente vota nos republicanos. Por isso, o que estará em disputa nesta terça-feira é o voto dos estados que variaram de sigla nas últimas eleições, conhecidos como swing states ou estados-pêndulo. Neste ano, eles são sete: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Geórgia, Carolina do Norte, Arizona e Nevada, que correspondem a 93 dos 538 delegados em disputa. Para vencer, é preciso obter 270 delegados, isto é, maioria simples do total. Hoje, Kamala tem o apoio de 226 e Trump, 219.

A forma como o número de delegados por estado é definido, inclusive, é um dos fatores que historicamente favorece republicanos como Donald Trump na corrida pela Casa Branca. Isso porque a quantidade de delegados de um estado é definido pelo tamanho da sua bancada no Congresso, ou seja, a soma da sua representação no Senado, sempre dois senadores, e na Câmara dos Deputados, proporcional à sua população. A Califórnia, por exemplo, tem 54 delegados: 52 referentes aos deputados e dois, aos senadores.

Enquanto o eleitorado do Partido Democrata se concentra em estados mais populosos, os eleitores republicanos estão espalhados por um maior número de estados com menor densidade populacional. Apesar de parte do número de delegados por estado ser proporcional ao tamanha da sua população, o fato de ele sempre incluir dois delegados referentes ao Senado aumenta consideravelmente o peso de lugares menos populosos, onde o Partido Republicano sai em vantagem. Além disso, em estados menores não é preciso uma votação tão expressiva para obter a maioria.

Segundo um estudo da Universidade do Texas de 2017, os republicanos têm 65% de chance de vencer no Colégio Eleitoral se forem derrotados por uma margem de 1 a 2 pontos percentuais no voto popular. Mesmo com uma diferença de 3 pontos, os republicanos ainda poderiam vencer no Colégio Eleitoral em 16% das vezes, apontou a mesma pesquisa.

Empate técnico

 

Hoje, Trump e Kamala chegam às urnas com um empate técnico nas pesquisas de intenção de voto tanto nacionalmente quanto nos estados-pêndulo. É um cenário de indefinição, mas que acaba dando uma vantagem a Trump, já que os democratas costumam precisar de uma margem de ao menos 4 pontos de vantagem no voto popular para garantir uma vitória confortável no Colégio Eleitoral. De acordo com o agregador de pesquisas Real Clear Polling, os dois estão empatados com 48,5% na votação popular nacional.

Foi o que aconteceu em 2016, quando a democrata Hillary Clinton obteve 48,2% dos votos, cerca de 3 milhões a mais do que Trump, mas o magnata venceu a eleição com 304 delegados e 46,1% dos votos. Em 2000, o democrata Al Gore também ganhou do republicano George W. Bush no voto popular, com 48,4% a 47,9% dos votos, mas perdeu no Colégio Eleitoral em meio a um imbróglio envolvendo a contagem na Flórida que foi parar na Suprema Corte.

Porque o Colégio Eleitoral foi adotado

 

Há um grande debate até hoje sobre porque o que levou à adoção do controverso sistema e porque ele sofreu poucas reformas desde a sua criação, há quase 250 anos. Alguns afirmam que o modelo foi escolhido para equilibrar os interesses entre os estados mais e menos populosos. Um dos principais argumentos adotados para a sua criação, na época dos chamados Pais Fundadores, defendia que, em um país com dimensões continentais como os EUA, muitos americanos comuns não teriam acesso a informações suficientes para tomar tal decisão.

A Constituição americana, que desenhou o atual sistema eleitoral, foi redigida em 1787, apenas 11 anos depois de as chamadas 13 colônias se tornarem independentes do Reino Unido, e elas queriam manter sua autonomia em um sistema federativo.

Além disso, os Pais Fundadores, que influenciaram a redação da Carta, valorizavam mais o viés republicano do que o democrático, pondo mais ênfase na representação do que na soberania popular numa época em que nenhum país elegia seus governantes por sufrágio universal.

Por outro lado, os estados do Sul tinham uma enorme população de pessoas escravizadas que não votavam, mas queriam assegurar sua influência sobre o governo. Para isso, três quintos do número de escravos passaram a ser levados em consideração para determinar o tamanho das bancadas estaduais no Congresso, e, portanto, no Colégio Eleitoral.

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