Entrevistas coletivas do treinador fogem do protocolar, e ele não se esquiva de responder perguntas sobre assuntos polêmicos, mas declarações nem sempre agradam internamente
Por Redação do ge — Rio de Janeiro
Desde que assumiu o comando do Flamengo, em outubro do ano passado, Filipe Luís vem se destacando pelo trabalho ofensivo dentro de campo e pela sinceridade fora dele. As entrevistas coletivas do treinador fogem do protocolar e, na maioria das vezes, ele não se esquiva de responder perguntas sobre assuntos mais densos e polêmicos.
O perfil “sincerão” é bem avaliado por torcedores e jornalistas, que veem qualidade em suas ponderações e coragem em quem não esconde suas opiniões no meio. Mas nem sempre pega bem dentro do clube. Como aconteceu com sua declaração sobre a logística da viagem do Flamengo a São Luís para o jogo contra o Botafogo-PB, na quinta-feira. Filipe Luís elogiou a festa da torcida rubro-negra no Maranhão, mas fez críticas ao planejamento, que é responsabilidade do clube.
Há pouco mais de duas semanas, outra declaração de Filipe Luís repercutiu nos corredores do clube e foi recebida de forma negativa por algumas áreas. Perguntado sobre o indiciamento de Bruno Henrique por supostamente ter forçado um cartão amarelo para beneficiar apostadores, o técnico foi profundo na abordagem sobre a relação entre o futebol e as apostas. O comentarista Carlos Eduardo Mansur considerou o posicionamento corajoso.
– O que eu quero falar, o Diego (Ribas) falou. Se alguém quer saber o que eu penso, o Diego falou pra mim ali (em vídeo postado no Instagram). Quando eu era novo, assistia à Fórmula 1 com meu pai e todos os carros tinham uma propaganda de cigarro. Hoje já não pode mais. Eu já recebi várias ofertas para fazer propaganda de casas de apostas. Não faço, porque eu sei o dano para as pessoas que apostam. O vício que é, é uma droga, infelizmente. E daqui a uns anos, daqui a 20 anos, a gente vai estar olhando e vai falar “caramba, todos os times, todos os lugares tinham anunciado casas de apostas”.
– Mas o dano que está machucando, está fazendo em tantas pessoas, a gente não tem a real noção ainda do que está acontecendo. Os jogadores estão cada vez mais instruídos pelo próprio clube. O Flamengo deu uma palestra sobre esse assunto. Sobre o que os jogadores podem e não podem. Na Espanha, por exemplo, desde que eu estava lá em 2015, 2016, falavam todos os anos sobre o que a gente tinha, a nossa conduta, e o Flamengo fez isso esse ano, então os jogadores estão cada vez mais instruídos para não serem nunca abordados.
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Filipe Luís se destaca pela sinceridade em entrevistas do Flamengo — Foto: André Durão
O assunto é polêmico e evitado por muitos profissionais do futebol porque, hoje, vários clubes e competições são patrocinados por casas de apostas. Como é o caso do Flamengo, que é parceiro da PixBet e também tem sua própria plataforma de apostas esportivas. Até por isso, internamente a fala de Filipe Luís não foi bem recebida.
Alcaraz
– Eu fui muito sincero com ele e falei: “Nesse momento, você está atrás dos que estão na sua posição. Você pode disputar posição com o Arrascaeta, mas tem o Gerson que joga ali. Você pode disputar posição de volante, mas tem quatro volantes. Você está atrás de todos eles”. Ele falou “Ok, eu aceito isso, vou brigar pelo meu lugar no time”. Falei o que achava que ele precisava melhorar, foi uma conversa muito sincera. Ele jogou bem, fez o gol. E, no outro dia, ele decidiu sair.
Lorran
– Eu vi o Lorran crescer. Eu o vi no sub-17, no sub-20. Ele fez um jogo no sub-20 sendo sub-17 e, no outro dia, eu falei para o Sampaoli dar uma olhada nele: “Esse menino acabou com o jogo ontem”. Ele treinou e realmente não fazia muita diferença nos treinos em 2023, quando o Sampaoli estava aqui, mas tinha 16, 17 anos ainda. No ano passado ele teve uma sequência boa, até virou titular com Tite. Acabou passando por altos e baixos que os jogadores, principalmente os jovens, passam. Até foi vaiado pela torcida. Então, eu pedi a ele constantemente para descer. O próprio Cléber Xavier preferiu descer ele para ter minutos e desenvolver. No sub-20, ele foi o meu jogador e daí ele sempre voltava para o profissional. Quando eu subi para o profissional já o conhecia, mas o problema é que o Lorran tem jogadores que competem a posição com ele. E que estão melhores que ele. Simples assim. Não tem segredo no futebol.
– Tem jogadores que estão melhores que os outros. E eu não vou colocar um jogador que não está bem e tirar um que está voando. O Lorran competia posição com o Gerson, Arrascaeta… Aberto? Não é tão determinante para jogar aberto. Poderia ser o próprio Cebolinha, Michael… Poderia, mas eu acho que não é a posição dele. Ele compete com o Gerson. Como eu tiro o Gerson? Depois como eu tiro o Luiz Araújo para colocar o Lorran? Temos que entender que é difícil para ele com 18 anos. Ele tem que ter minutos. O jogador é que escolhe onde quer ficar, ninguém obriga jogador a sair ou ficar. Se ele quiser sair, que ele possa ter minutos para se desenvolver, crescer. O talento dele é absurdo, mas ele precisa evoluir muito para poder performar e ter uma sequência sem oscilar e manter o alto nível do jeito que a gente falou do Wesley antes.